quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vou voltar.. prometo.

Gente.. as moscas será que me acompanham????

Bem, to querendo reativar meu blog, mas confesso que não sei ainda o que vou escrever aqui. Infelizmente não tenho tempo e mente para deixar livre para escrever historias soltas sempre.

Estou me dedicando as minhas fics, passa tempo viciante, e meus livros, não vou posta-los aqui, afinal estão sendo escritos ainda, e podem me chamar de criança, temo que alguém roube a minha ideia.

Acredito que vou trazer mais da minha loucura aqui. Será que vai prestar? Tudo que eu gosto... num sei ainda.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

As aparencias sempre enganam

Esse conto surgiu partir de uma sugestão de uma querida amiga. Não vou falar muito senão estraga a historia. Ele será divido provavelmente em três partes. Hoje vem a primeira. E cada dia vem a próxima. ok?

Primeira parte:


Seu rosto branco sempre perfeito, com nenhum defeito aparente, sua maquiagem impecável como sua roupa, acompanhado com seu sorriso gentil e hospitaleiro, todo esse quadro irritantemente perfeito era algo costumeiro dela. Susan se agachou na minha frente, na cadeira confortável que tínhamos na sala. Lançou seus absurdamente olhos azuis claros para mim com um tom de preocupação e zelo, suas mãos tinham um copo de suco, o liquido tinha um tom rosado.

Sem respondê-la, pois quando começou a se velar o corpo sentei li para observar tudo e lá fiquei todo tempo, com o intuito de prestar atenção nela. Vendo minha ausência, só havendo meu corpo jogado no móvel, esticou sua oferta silenciosa, ainda em meio estado de choque aceitei.

Beberiquei o refresco que pude contestar agora que era feito de goiaba, pela consistência estava bem concentrado, como ela sempre faz por causa de minha preferência por esse modo. Ela se afastou, com o passo calmo foi caminhando na sala, no caminho pegando o lixo produzido pelas pessoas Durante o velório, foi até pouca bagunça para o volume grande de pessoas que aqui estiveram.

Minha mente depois de ontem funcionava como um disco de dvd arranhado que “pula” passa pra frente as cenas, algumas vezes as congela, ou volta a fatos que já haviam acontecido. Tudo se embaralhava na minha cabeça, deixando-me perdido de uma maneira nunca experimentada por mim anteriormente.

Agora meu campo mental recordava de poucas horas atrás, como num passe de mágico, somente visto em filmes, eu consegui ver a sala se encher de gente. As pessoas, principalmente vizinhos e amigos da minha família solidarizando com Susan a sua perda. A sua única irmã, seu ultimo parente vivo faleceu.

As condolências eram chorosas e sofridas, vários tapinhas nas costas dela, lágrimas grossas acompanhados de lencinhos para não borrar toda pintura das mulheres, minha esposa Susan aceitava todo tipo de conforto. Seu rosto tinha um tom pálido mais que normal, contudo não sei se pelo fato de estar desconfiado com ela, achei aquilo poderia ser truque de maquiagem, na verdade suspeitava e analisa qualquer movimento feito por ela.

A sua imagem parecia bastante sofrida para todos ali, falavam a todo o momento que ela não se sentisse só no mundo. Ela agradecia com gestos calmos e contidos. Aquilo me deixava inquieto, não pela sua dor, coisa que não posso julgar qual seja, mas sim pelo contrate de ontem quando ela recebeu a noticia da morte de sua irmã.

A cena se congelou e se repetiu, o disco arranhou ali, agora sala esvaziou, voltando para vinte quatro horas antes, a luz era quase uma penumbra, por coincidência me encontrava nessa mesma poltrona, gostava dela para ler, o abajur eu fica ao seu lado é perfeito na iluminação. A minha recordação foi tão perfeita que consegui sentir os meus óculos de leitura pesando no meu rosto, acredito que para montar o quebra-cabeça que necessito preciso de qualquer detalhe.

O telefone tocou ecoando seu som estridente pela a noite sempre tranquila que reinava em nossa casa. Susan veio até o aparelho, tirou do gancho o fone e atendeu, fiquei atento a ela, pois sabia que poderia ser alguma coisa relacionada a sua irmã Lisa. Ao perceber minha atenção nela, virou seu corpo calmamente, sem nenhum movimento brusco. A ligação durou no máximo dois minutos.

Ao terminar colocou sua mão delicada com o aparelho frouxo entre os dedos no ombro, soltou um suspiro, parecia de alivio, bem foi o que meus olhos capturaram em meio a penumbra que se encontrava o ambiente. Depois disso ela colocou o fone no seu devido lugar. Sem obter nenhuma fala dela perguntei o óbvio:

-Era sobre Lisa? – tentei usar um tom delicado, já me levantando da onde me encontrava.
-Ela faleceu. – Susan virou para mim, para meu espanto seu rosto era indiferente. Lembrei-me que pessoas em estado de choque devido a noticias impactantes, podem ficar naquele estado tranquilo. Ela fez um gesto para eu sentar e avisou que ia ao escritório ligar para a funerária, organizar tudo para o velório.

No entanto ela parecia realmente calma, aquilo me assombrou, imediatamente fui mais para trás no tempo. Desde que Lisa foi internada devido sua queda em casa, de cima da escada, ela se encontrava em coma profundo. Ela era uma pessoa transtornada pelo seu problema de vicio álcool, ela sempre se metia em confusões em bares e dividas para alimentar sua obsessão. Muitas vezes Susan a buscava nos hospitais quando era internada para tomar soro na veia.

Elas sempre tiveram uma relação tumultuada, xingamentos feitos por Lisa eram jogados contra Susan, que por sua vez, por incrível que pareça não respondia nada, somente a encarava a irmã alcoolizada com rosto de pena.

A simples presença de Susan irritava Lisa, que muitas vezes jogou objectos contra a irmã, em contra partida, a outra era demasiadamente cuidadosa com irmã. Pagou do próprio bolso inúmeros tratamentos em clínicas de tratamento de dependentes alcoólicos. As pessoas ficavam compadecidas com a luta da irmã boazinha com irmã problema.

Em algumas bebedeiras ou até nos seus momentos de lucidez, que eram poucos, Lisa esbravejava que não conhecemos o demônio que Susan era. Aquilo despertava a ira dos outros, até muita às vezes a minha, porque minha esposa tinha toda paciência do mundo, ficando alguns dias com a irmã na casa dela. Contudo agora juntando as peças vejo que Lisa era a mais sã de todos nós, ela sabia muito bem com quem estava lidando. Agora estou começando a enxergar que suas acusações, afastando o véu da ilusão que Susan teceu na minha frente, me cegando para sua verdadeira face.

Os médicos ficaram impressionaram como Lisa sobreviveu a queda tão violenta, pois ela rolou degraus a baixo, resultando e nenhum nosso quebrado, somente um corte profundo na testa e o coma. Eles afirmaram que ela havia ingerido álcool, algo esperado, um dos motivos que evitava sua presença, além da sua mania, hoje vista por mim como certa, de falar que não conhecíamos Susan.

Nunca escutei uma reclamação sequer da minha esposa do comportamento inadequado da irmã, repetia inúmeros momentos que tinha pena do estado dela, que sempre foi um problema que apareceu desde da infância, onde ela bebia escondidas as bebidas do pai.

Não conseguia compreender como Susan ainda se preocupava com irmã bêbada, depois de toda a magoa provocada por ela, minha esposa dava os ombros e repetia, que ela era sua única família, com seus traços perfeitos mostrando sofrimento pela sua luta. Além que Susan era a mais velha, dizia se sentir responsável pela irmã depois da morte dos pais. Todavia eu não sabia que eu também estava submerso no seu jogo de mentiras, recordo-me do dia que a bolha de ilusão começou a se trincar, mostrando que a vida de sonhos que eu tinha era uma farsa.

Durante uma semana Lisa ficou internada, Susan passou lá praticamente todo tempo, não saindo do seu lado para nada. No sétimo liguei para minha mulher e pedi que viesse para ficar comigo, pois sentia saudade dela. Então fui ao hospital buscá-la, a equipe medica achava interessante a dedicação constante de Susan, mostrava quanto ela se preocupava com a recuperação rápida da irmã.

Minha esposa pediu para buscá-la a três horas, entretanto sai mais cedo do meu escritório de advocacia, não queria passar em casa, para esperar por ela, então decidi ir logo para hospital. Sentia sua falta, a nossa casa não era mesma sem a sua presença em casa.

Quando cheguei a recepcionista nem me parou, pois já me conhecia, havia uma semana que vinha todo dia aqui, dessa forma ela não me acompanhou até o quarto, que eu já sabia bem o caminho.

Ao entrar no quarto não vi Susan, escutei só o som da porta do banheiro do quarto se fechar, provavelmente ela teria ido para alguma necessidade fisiológica. Olhei para o leito e notei o braço direito de Lisa virado para cima, repousando no lençol perfeitamente arrumado, sem duvida ajeitado por Susan com sua mania de perfeição.

Escutei vindo do banheiro, o som de plástico, logo em seguida uma água escorria livremente na pia. Em seguida, depois de alguns segundos Susan aparece, notei ela se assustar com a minha presença, por alguns segundo eu podia jurar que vi uma sombra de raiva nos olhos que tanto amava.

Achei estranho aquilo, ela passou por mim e ajeitou a mão da irmã inconsciente para baixo, algo dentro de mim alertou que algo estava errado. Para retirar essa impressão perguntei:

-Está tudo bem?
-Sim. – ela respondeu seca ainda com seu rosto virado para a irmã. – Vamos embora?
-Vamos. – eu respondi. Nesse momento ela virou para mim com seu melhor sorriso.

Quando estávamos nos preparando para nos retirar entrou no quarto o medico responsável pelo caso da minha cunhada, me cumprimentou com aperto firme de mão e depois pediu para conversar com minha esposa, que aceitou ir, puxou meu braço para acompanhá-la. Entretanto falei que era um assunto dela, não queria atrapalhar, ela insistiu, mas eu fui firme e falei que esperaria por ela aqui no quarto, onde tinha uma poltrona, além que havia uma televisão queria ver o noticiário de esporte que tinha perdido hoje de manhã.

Ela me encarou mais um segundo, vendo que não a acompanharia ela sorriu e saiu com medico. Encontrando-me sozinho sentei na poltrona, na verdade me joguei e liguei a televisão. Em meio a minha irritação que meu time tinha perdido um jogo, escuto Lisa resmungando e se mexendo, aquilo me assustou, levantei prontamente, me preparando para apertar a campainha chamando a equipe.

Entretanto a mão da minha cunhada me deteve no punho, num apertar forte, nem parecia que ela estava uma semana inconsciência, seus olhos se abriram como se ela houvesse levado um choque, seu corpo se arqueou para cima, sua respiração sobressaltada. Cena típica de filmes de terror, aquilo já me fez tremer, nunca gostei de levar susto.

-Não faça isso. – ela falou com a voz rouca. Pigarreou e continuou. – Pelas dores que estou sentindo tenho pouco tempo preciso te falar a verdade.
-Lisa, eu preciso chamar a enfermeira para você.
-Não há tempo. - ela vociferou assustando-me mais ainda. – Vá até a minha casa, no meu armário, há um fundo falso na parede. Lá terá toda a historia. – Seus olhos perturbados me encaram com urgência. – Você precisa saber a verdade.

Nessa hora ela se contorceu mais uma vez, se ausentando mais uma vez para inconciencia, ela parecia com muita dor, apertei o botão com a outra mão livre. Ela urrou de dor, algo não estava certo, em questão de segundo a equipe chegou, o barulho do equipamento onde ela estava ligada, começou um apito longo, mostrando que seu coração tinha parado. Rapidamente o médico responsável adentrou também o local, com Susan a seu encalço, ele já foi pedindo um Desfibrilador.

Toda aquela cena brutal aconteceu diante dos nossos olhos, parecia que tudo acontecia de maneira lenta, como num slow motion: um corpo tentando ser reanimado, não é um quadro muito bonito de se ver, fiquei preocupada de minha esposa ver isso, virei meu corpo na sua direção e a abracei. Contudo ela estava calma, seus traços perfeitos mostravam um ar de superioridade, até de satisfação. Aquilo me fez ter certeza que seguiria o conselho de minha cunhada. Pois havia algo de errado naquela pessoa que não reconhecia ao meu lado.



Espero que gostem... amanha tem mais!!!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Esse é o rascunho do primeiro capitulo de um outro livro meu... está bem primaria a ideia.. mas eu curti o resultado. Espero nque vocs tb gostem...




Sempre me pergunto como eu paro aqui nesse bar? Toda vez que deprimo por qualquer coisa, quando dou por mim estou nessa espelunca. Era um lugar que não deveria existir, mas estava no coração do centro da cidade, em um lugar subterrâneo, desce vários degraus para aqui chegar.

O teto é baixo, as luzes eram fracas e poucas pelo ambiente, o tornando obviamente obscuro, as luminárias iluminavam pontos incoerentes, como uma parede repleta de pôsteres de lutadores de boxes, invés o caminho onde as pessoas passam, outro ponto a lâmpada direcionava para o teto, rebatendo a luz para os lados. Os pontos de iluminação eram ilógicos. O cheiro de mofo e umidade se misturava ao ar com a fumaça do cigarro dos usurários. Existia uma bancada de bar, onde havia várias bebidas de todos os tipos exposta da atrás dos atendentes, todos homens e grandes em seu porte, bem, diferente do nerd aqui.

Todo lugar era esquizofrênico, tanto a decoração quantos as pessoas que ali freqüentava. E o mais estranho que ali eu me sentia bem. Andando mais pelo local, adentrando mais aquela loucura, parecia estar indo mais fundo na terra, havia um espaço agora amplo, contra dizendo a entrada reduzida. Nesse local havia outra bancada de bar, as pessoas bebiam tudo que fosse possível, nas misturas mais estaparfudias imagináveis. Nunca meus pais ou minha ex-namorada poderiam imaginar que esse era meu esconderijo na terra.

O descobri esse inferninho a dois anos atrás depois de um dia repleto de estresse no hospital onde sou residente, sai tão de cabeça cheia e resmunguei nos corredores queria sumir do mundo, onde ninguém poderia me encontrar. Afinal além de ter o dia cheio de pacientes, tive Lana, minha namorada na época, me cobrando mais tempo para ela, quando eu não tinha nem para mim direito, ainda havia minha mãe a reclamar que eu, seu filho, sou desnaturado por ter esquecido de levá-la no jantar de uma amiga.

Depois de sair reclamando entre os pacientes que eu queria desaparecer até o inferno é um lugar que eu preferiria do que a minha vida, assim um homem me chamou, ele estava com soro preso no braço, era glicose. Seu cheiro era de revoltar o estomago, resistir ir ate ele, mas ele falou que tinha resposta para meu dilema. Dessa forma prendi a respiração, me aproximei dele.

Sua voz embolada devido ao álcool em excesso ingerido por ele, com certa dificuldade ele me deu endereço dessa balburdia, encontrei com facilidade, ficava numa rua onde não tinha nada além de prédio vazios, tem uma placa velha desbotada onde não se ler nada mais direito. No primeiro momento me espantei com que vi, afinal dois homens enormes estavam se espancando na entrada do estabelecimento, as pessoas envoltas invés de separara-los apostavam quem ganharia o duelo.

Mas isso passou ser uma pratica que acontecia dentro do local, nesse espaço mais amplo, acredito que os donos, uns lunáticos por violência, cavaram mais em direção ao centro da terra e fizeram um ringue. Onde sempre havia embates, que levavam um dos seus “lutadores” a inconsciência e muitas manchas de sangue no chão, além de dentes que voavam ao redor do local.

Sempre sentava-me no canto direito, perto dos banheiros, ali eu podia ver todo tipo de movimento, o atendente já me conhecia: Frank. Sempre brincava comigo falando que meu mundo rico e refinado não pertencia aquele submundo sujo e feio. No entanto me sinto bem aqui, pois ninguém me controla, posso ser um cara despercebido.

Com vida louca de residente não podia vir aqui sempre, mas sempre que queria fugir de tudo, aqui eu ficava noites a fio. Madrugada passava despercebida por mim, era um lugar onde tudo acontecia ao mesmo tempo. Adorava ver o ser humano fazendo loucuras e mais loucuras, ali tudo era permitido até que você não perturbe a liberdade do outro.

Hoje eu tinha finalmente terminado tudo com Lana, graças a Deus ela perdeu a titulação de namorada e passou fazer parte do meu passado, assim espero. Que ela não tente mais uma vez armar para que voltemos, como já vez outras vezes. Lógico, minha mãe surtou ao saber que eu tinha dado fim aquele relacionamento sem sentindo nosso, pois era obvio que ela estava comigo pelo meu status social, coisa sempre desprezado por mim. Pouco me importava se meu pai fosse um empresário muito bem sucedido, definição para aqueles que entendem que sucesso esta intrinsecamente ligado com a quantidade que você ganha de dinheiro.

Eu havia tirado um peso gigante das costas, pois Lana é fútil e superficial, características sempre abomináveis por mim, todavia minha pouco auto-estima me fizeram se encantas pelo sua beleza obvia, além que um nerd com uma mulher linda é algo impensável, e eu tive essa chance. Contudo o preço disso foi caro, um relacionamento obsessivo e cansativo. Entretanto agora essa historia vai para estática de mais um relacionamento que não deu certo.

Ao me ver sentado na bancada, no meu costumeiro lado direito, Frank deslizou pela bancada um copo pequeno, cheire o liquido e minhas narinas arderam, meu rosto retorceu numa careta, um riso do atendente foi escutado.

-Você está com uma cara que precisa de algo forte. – ele falou servindo três garotas empolgadas ao meu lado. – Beba! Vai despertar o homem que há dentro de você.
-Acho que uma dose de álcool puro assim vai me acordar de qualquer coisa. – com pouco de resistência virei o copo, quase cuspi tudo, mas lembrei das meninas ao meu lado não queria passar vexame.
-Isso ai garoto. – Frank comentou e pegou meu copo. – Quer mais?
-Já to com muito álcool no sangue. – ele riu do meu comentário junto com minha tosse seca. – Vê minha cerveja de sempre.
-Ok. – ele virou o corpo, enfiou a mão num tonel, que estava repleto de gelo até a boca e tirou uma garrafa de cerveja. – esta aqui. Qualquer coisa me chama.
-Chamo sim.

Dei um gole tentando limpar minha boca do gosto amargo da bebida, para meu alivio deu certo. Olhei ao meu redor, as meninas que estavam ao meu lado encaravam tudo encantadas, não sei muito bem com o que, afinal ali não era um lugar muito bonito. Elas pareciam ter no máximo uns 18 anos, eram bonitas, bem arrumadas, como eu elas não deveriam estará ali.
Os homens passavam por elas desejosos e isso as divertiam, como cada olhar ou gracinha dita para elas fazia o jogo de sedução ser mais interessante. Comecei a temer por elas, acredito que elas não sabem onde estavam se metendo com aqueles homens que não pareciam ter nenhum escrúpulo.

Em meio a minha observação daquelas três perdidas, percebi alguém sentando do meu outro lado, a forma que deixou cair o corpo contra o banco, parecia que o dia não tinha sido só difícil para mim. Ao virar meu corpo para figura tomei um susto: era uma mulher. Vestia uma calça jeans desbotada um pouco larga, nada exagerado, um blusa branca regata justa, com sutiã preto aparecendo, usava um coturno preto nos pés, seus cabelo levemente ondulado nas pontas avermelhado preso num boné todo puído na beirada da aba. Ele escondia o rosto dela.

Seu rosto estava fixo para frente, só bateu a mão na bancada, Frank vai ao seu encontro com um sorriso nos lábios, ele já a conhecia. Ela baixou a cabeça e inclinou um pouco na minha direção, seus olhos esquadrinharam o chão entre nós, seu rosto foi levantando e pude ver o seu rosto. Ele era perfeito, seus olhos verdes escuros, sua boca carnuda, com os traços femininos bem marcados, não havia delicadeza neles e sim uma sensualidade. Qualquer mulher a invejaria por ter tamanha perfeição estampada, faria milhões de plásticas e não chegaria perto daquela obra de arte.

Minha respiração ficou suspensa devido meu assombro, não esperava ver uma mulher tão linda ali, muito menos vestida de maneira tão displicente, era nítido que não queria ser notada pelo outros. Ao perceber minha surpresa, um sorriso somente de lábios surgiu, mas logo seus olhos encararam Frank.

-Preciso de uma bebida. – Ele saiu a caça em meio a várias garrafas do seu estoque. – A mais forte que você tem.

Ele subiu em uma prateleira e pegou uma garrafa pequena preta, nem tinha rotulo, fiquei receoso o que aquilo poderia ser, depois pegou outra garrafa de Absinto, misturou tudo na coqueiteleira, sacudiu com vontade, despechou o conteúdo, que tinha uma cor nuncavisto por mim, em um copo médio. Temi pela saúde física dela. Em contra partida ela parecia não ligar em deixar a escolha nas mãos daquele louco alquimista alcoólico.

-Está aqui Senhorita. – ele colocou o copo na frente dela.
-Obrigado. – ao terminar de falar ela simplesmente virou o copo com facilidade absurda.

Senti vergonha da minha fraqueza, uma mulher sentou ao meu lado e bebeu praticamente um coquetel potencialmente mortal com eximia destreza, como se aquilo fosse água de todo dia. Ela não reclamou em nada, nem um gemido de amargura ou uma careta, nada, uma fisionomia tranqüila.

Observei mais seu rosto os seus olhos estavam um pouco avermelhado ao redor, como a ponta do seu nariz estavam na mesma coloração, devido sua pele muito branca denunciava que ela havia chorado, aquilo despertou minha curiosidade e minha raiva, isso era algo inesperado por mim.
-Por isso que gosto de você garota. – Frank falou impressionado. – Nunca te vi engasga ou reclamar de alguma bebida que lhe dou.
-Tenho fígado bom para isso também. – Ela falou friamente.

Não sei o que me deu, mas sem ao menos pensar em nada as palavras escaparam da minha boca:

-Você esta bem?
-Só estou com raiva. – ela falou sem me encarar, olhando para o copo. – Preciso tirá-la de dentro de mim.

Antes que eu falasse algo, como o por que daquilo, ela se levantou com uma habilidade imensa, notei ela ser um pouco mais alta do que eu, eu tenho 1,80, ela devia ter uns 1,75. Ela saiu andando em direção ao ringue. Mas antes ela olhou para Frank e piscou. Havia uma conversa de código entre eles, novamente senti um incomodo, uma idéia absurda apareceu: “Queria eu ter essa cumplicidade.”

-O que esta acontecendo comigo? – Resmunguei para mim mesmo em voz alto.
-Ela deixa todos os homens assim. – Frank relatou para mim. – Você vai ver o que ela vai fazer agora.

Peguei meu copo de cerveja e fui em direção a ela, que continuava a seguir para o ringue, todo engradado as paredes até o teto, com o chão de tatame que antes era bege só que agora era repleto de manchas vermelhas de sangue coagulado. Ao perceber que ela estava se aproximando mais e mais daquele santuário de animais, cresceu dentro de mim um desespero. O que ela vai fazer? Tirando-me das minhas indagações um homem foi jogado contra grade enferrujada, fazendo os espectadores irem ao delírio.

Nesse instante ela olhou para o homem que toma conta daquela jaula, ele é negro, com os braços grandes de puro músculo, careca e usava um colete, onde tinha vários bolos de dinheiro, tudo aposta das lutas que ele mediava. Ela o chamou com os dedos, ele sorriu e se abaixou para escutar o que ela tinha para lhe dizer.

A medida que ela o flava seus sorriso foi se transformando em sarcástico, ele não acreditava no que ela tinha lhe falado. Ao se afastar dele, seus olhos eram suplicantes para o homem que sibilou para ela: “Você vai morrer.”

Os olhos verdes dela brilharam de ódio, isso assustou o homem, que deu os ombros e falou, pude ler os lábios dele: “A vida é sua, uma pena uma mulher linda como você morrer assim”. Ele abriu caminho para ela passar na sala onde os “briguentos” se preparavam para duelarem.

Ela não vai fazer o que estou pensando? Foi a única coisa pensada por mim, antes que eu me embrenhasse no meio das pessoas, que reclamavam meus empurrões, alguns me derrubaram contra o chão, no entanto continuei a minha cruzada. Queria chegar perto dela para impedi-la de entrar naquele ringue. Ela será morta facilmente. Era único alerta que meu cérebro gritava apara mim.

Contudo quando eu percebi já era tarde demais, ela estava lá dentro, os homens gritavam ensandecidos, pareciam leões famintos vendo um pedaço de carne suculenta, obscenidades eram ditas por eles, aquilo me inervou, não sabia muito bem o que fazer ou pensar. Tudo parecia ser irreal, como uma mulher linda como ela poderia se meter numa dessa?

Para meu maior desespero vi o oponente dela, um homem de uns trinta anos, repleto de músculos, que tinham tatuagens emaranhadas na pele, com uma cara de assassino que foi condenado a prisão perpetua, por matar com extrema crueldade, que saltavam dos seus olhos negros, suas vitimas. Não sei o que me deu, quando dei por mim já estava próximo ao ringue, com rosto praticamente colado na grade.

Nunca havia suado tanto na minha vida, o medo tinha feito meu estomago ficar oco, parecia que ele ia cair dentro de mim, uma sensação louca. Meus olhos fixaram na imagem dela, que parecia estar se concentrar em algo.

O homem ria e debochava da fragilidade da mulher a sua frente, começou a mandar beijinho para ela, ameaçava fazer o diabo com seu corpo desacordado, aquilo fazia um tremor de pânico sacudi meu corpo, contra partida ela ficou parada só o observando, parecia uma fera atenta no seu possível ataque.

-Então vamos começar a festa. – O homem gritou, tendo apoio dos restantes dos loucos do lado de fora, que sacudiam as grades. – Pena que terei que destruir seu rosto perfeito.
-Vamos ver se você vai consegui. – ela ameaçou com um sorriso de canto de boca.

Aquele monte de músculo investiu as costas da sua mão pesada no rosto dela, que parecia esperar pelo golpe, isso a fez voar para canto onde eu estava, quando seu corpo caiu perto de mim, sem se mexer um músculo sequer, comecei a chamar por ela com famosos : “Ei moça, não faz isso.” Ela continuava parada, fiquei pensando que ela estava muito tempo inconsciente, mas a verdade é que não conseguia ver seus rosto, pois esse estava virado para outro lado.

Todos ao redor gritavam que a luta já havia sido ganha, o homem se vangloriava que aquela tinha sido a luta mais fácil da sua vida, piadas de machismo surgiram opressoras por todos os lados.

Para surpresa de todos, até a minha, ela começou se mexer, colocou as mãos no chão, ao esticar os braços na minha frente, notei suas veias saltadas, como se o sangue tivesse pulsando freneticamente. Veias daquela maneira só se via em atletas de alta performace, para que o músculo seja bem irrigado para que trabalhem na sua maior capacidade.

Ela girou o pescoço, deu para ouvir os ossos estalando, com um uma manobra de ginástica ela se pos de pé. O silencio ecoou pelo bar, todos estavam espantados, ela tirou o boné, limpou o canto da boca, que sangrava, com a ponta dos dedos. Com os olhos enfurecidos para o homem no ringue e o chamou:

-Agora vamos brincar da forma que se deve.
Ela correu na direção dele, não sei se ele ainda estava em estado de choque ainda, mas ele ficou desconcertado, facilitando o movimento dela. Tudo aconteceu numa rapidez incrível: ele estava com os joelhos levemente flexionados, isso foi o “degrau” para ela subir e aplicar um soco e em seguida uma cotovelada com a mão esquerda, com o corpo dele já indo para trás ela deu uma joelhada na altura abaixo do diafragma dele, o fazendo desabar no chão.

Ela caiu de joelho em cima dele, lhe aplicando socos bem fortes com a direita, seus olhos ferviam raiva, aquilo parecia agradar seu ego, os homens antes torcendo pelo brutamonte agora piravam com as investidas dela. Mas homem empurrou ela para longe, mas como um gato ela caiu de pé, havia tanta raiva escapando dos poros dela que contaminavam todos ao redor.

O homem sacudia a cabeça e o seu sangue desenhava o chão com manchas e mais manchas, ele estudava forma de atacá-la, e ela o olhava chamando com os dedos. Os espectadores agora o xingavam de fraco, por estar perdendo para uma mulher. Isso o inervou e investiu seu corpo másculo contra ela, que rapidamente agarrou a grade com as mãos usando como escada e aplicou um chute no meio do rosto, o fazendo cambalear dando uns passos para atrás.

Ela aproveitou a tonteira dele e aplicou um chute certeiro no peito, pode ser ouvido por todos os presentes o trincar do osso esterno. Isso fez aquele homem imenso cair para desacordado no chão. Ela deu um urro, parecia estar exorcizando algo muito forte de dentro dela, isso fez todos irem ao delírio, sacudindo as grades. A respiração dela era alta, ela remexeu o corpo e todos os ossos dela estalaram, ela olhou envolta e perguntou se havia mais algum homem para ela lutar. Ninguém se prontificou.

Ao olhar mais atentamente a figura dela notei uma confusão dentro do seu olhar, ela parecia perdida, incrivelmente eu queria ajudá-la. Queria aquele ódio, aquela raiva desenfreada, olhar raivoso. Qualquer sentimento que ela poderia possuir por outro ser humano, quero para mim, quero que seja meu.

Seus olhos verdes encontraram com os meus, ela pareia uma fera, havia uma intensidade absurda ali, queriam eles sempre me olhando, me deixando sufocado como agora. Queria ela só para mim, toda aquela confusão podia ser a minha. Quero exercer qualquer papel na sua vida, obvio, eu quero ser mais que amigo, mas aceitaria qualquer que ela me oferecesse.

Ela saiu da gaiola, deixando um rastro de confusão para trás, o dono da gaiola estava rindo a toa por ter ganhado as apostas que foram maioria esmagadoras no homem que agora estava caído no chão em cima da sua propria poça de sangue fresco. Ela caminhava em minha direção, as pessoas davam passagem para ela, ninguém entrava no seu caminho, alguns por receio outros por admiração por sua força e visto de perto sua beleza.

A mulher parou na minha frente com seu mesmo sorriso enigmatico que tanto me seduziu quando eu estava sentado no bar. Ela me encarou por alguns segundos, seus olhos verdes me vasculharam a minha figura, começando dos meus pés até meus olhos. A mesma intensidade que havia no seu olhar durante sua batalha continuava estampado ali. Ela esticou a mão para mim com determinação, que logo tratei de pegar.

-Prazer, meu nome é Jenny. – ela falou para mim.
-O meu Lucas.
-Espero que tenha gostado do que viu. - nossas mãos já tinham desconectaram, me entristecendo.
-Gostei. - Me senti um idiota por esse comentario. Tentei melhorá-lo de alguma maneira.- Quer dizer impressionante. - ainda não estava boa minha colocação, ela percebeu meu nervoso, talvez minha gagueira denunciou meu estado. - Não é comum uma mulher brigar assim.
-A muita coisa ao meu respeito que é incomum. - Ela voltou andar, passando seu corpo bem proximo a mim. Não sabia o que dizer, só vi ela se afastando de mim.

Aquele breve encontro mudou algo dentro de mim, eu podia sentir, mas ainda não sei como ou por que só há certeza que algo havia transformado. posso confessar que eu estava gostando dessa novidade.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Depois de quase um mes sem postar, arrumei um tempinho.. Essa historia foi pensada durante muito tempo, pois sempre fico tentando me colocar no lugar do outro, exercicio complicado, mas tento mesmo. Assim vendo algumas pessoas publicas tendo que enfrentar seus problemas no meio de todos deve ser muito dificil. então veio essa historia ai. Espero que gostem!!




Meus pés brincavam displicentemente na água límpida da piscina da minha cobertura, o movimento desordenado formado me deixavam longe de qualquer dor que eu tinha vivido e revivido durante esses dez dias de isolamento. Durante esse tempo todos tinham respeitado a minha vontade: a solidão.

O sol brilhava firme sobre minha cabeça, esquentando todo meu ser, aquele calor parecia aquecer meu frágil coração. Joguei a cabeça para trás, deixando os raios de sol da manhã correrem meu corpo.

Fazia tempo que a escuridão tinha me envolvido, desde daquele dia fatídico: onde eu tinha obtido minha realização pessoal e profissional, sendo potencialmente o dia mias feliz da minha vida, foi encerrado pela perda de algo, que até aquele dia era fundamental na minha vida, o encerramento de uma historia de amor.

Ao lembrar daquela madrugada, principalmente seu fechamento fez meu peito se contorcer. No entanto meu lado racional, sempre muito admirado por todos, resmungou: “Você precisa reagir, as pessoas esperam isso de você.” Voltei meu rosto para frente encarei novamente água brincando nos meus pés. Suspirei e pensei: “poderia dar uma volta e ver a vida passar por mim.”

Aprovei essa idéia, que buscava uma normalidade dentro meus cacos do meu ser. Dessa maneira levantei e caminhei para dentro de casa. Durante a minha ausência, trancafiada dentro do meu quarto expurgando todo sofrer da partida, percebi que meu lar estava modificado em alguns aspectos.

Os porta-retratos estavam com fotos só minhas, cada uma mais bela do que a outra, várias retratavam momentos impares da minha carreira. Meus dedos pegaram um dele, lá estava uma eu muito glamurosa, com um vestido que foi comentado durante semanas e mais semanas como mais bonito. Um sorriso travesso escapou da minha boca, algo que era raro de se acontecer, mas que estava voltando vagarosamente.

Coloquei a foto no lugar, agradeci mentalmente pela minha amiga e assessora: Clair, que sempre cuidou mais de mim do que eu própria, sempre zelou pela minha imagem publica, contudo a minha felicidade sempre foi sua prioridade. Lembro-me da sua atitude quando me encontrou sentada chorando no banheiro do teatro onde estava havendo a cerimônia, logo depois que recebi o premio como melhor artista do ano.

Estava eu caída no ladrilho, em uma cabine do banheiro, com a privada escorando meu corpo, aos prantos com meu vestido vermelho escuro, com jóias feitas espacialmente para mim adornando meu pescoço, orelhas e braço. Nada aquilo importava, o valor daquelas peças não eram nada perto do que meus olhos tinham acabado de presenciar ao sair o palco. O grande amor da minha vida nos braços de outra.

Ao ver aquilo, senti meu corpo sendo sugado por um túnel escuro, onde a escuridão começou a me consumir e se prosseguiu até ontem. Em meio ao meu momento de incredulidade, meu cérebro repetia raivosamente como aquilo era possível? Como um filme corrido por ser rebobinado, as imagens da nossa vida junto foram passando freneticamente por mim. De repente um flash de uma maquina me tirou da maneira entorpecida que eu estava. Era um paparazzo que tinha pegado minha figura inconsolável. No entanto ele não tinha conseguido flagrar o motivo do meu estado catatônico.

Ao perceber meu retorno aquele ser, porque naquele momento ele não era mais nada para mim, tentou me consolar, seus braços tentaram circular minha cintura, posando de bom marido ao meu lado. Argumentando que eu estava emocionada por ter ganhado o maior premio da minha carreira. Meu lado racional urrou como uma fera que acabara de ser ameaçada, ela se manifestou na minha fala ensandecida entre dentes:

-Tire as mãos de mim, nunca mais você encoste um dedo sequer em mim.

O assombro logo apareceu em seu rosto, classificado por várias e várias revista como perfeito, todavia agora ele se contorceu em uma feição desaprovação ao meu ato, principalmente com os flashes incessantes da testemunha da mídia. O fotografo estava adorando o pequeno escândalo.

Sem me importar com nada ou ninguém, virei meu corpo e sai dali com passos firmes, isso graças ao meu lado racional que estava me mantendo de pé. Cada passada, meu coração ia se agitando acelerado, querendo explodir em toda dor da decepção, porém não permitiria isso acontecer ali na frente dos dois monstros, a maquina fotográfica ávida em capturar meu sofrer para ser exposto a todos e outro que não possuía escrúpulo algum em me magoar em um dos dias mais importantes da minha vida.

Ao passar pela porta do banheiro, notei que havia algumas mulheres ali, pedia todas com a calma que me era possível naquele momento, que elas se retirassem do local. Enquanto fazia isso os pedaços de mim foram caindo dentro do meu ser, meu cérebro só repetia: “Mais um pouco de força, entre em uma cabine e se tranque ali.” Obedecei sem questionar, fazendo uma força inumana para não deixar as lágrimas escorrerem na frente de todos.

Elas saíram, algumas me xingaram, falando que eu era mal educada dando estrelismo naquele momento, outras ficaram olhando desconfiada. Ao final todas se foram, fiquei só, tranquei o banheiro, não segura ainda, com pensamento que alguém poderia invadir o local fui em direção a ultima cabine do banheiro. Ao fechar a porta do cubículo meu corpo fez o que tinha vontade, as minhas costas encontraram a parede e deslizei até o chão. O túnel tinha retornado e me sugado, as gotas salgadas desciam sem pedir licença pelo meu rosto.

Não sei precisar quanto tempo fiquei sentada ali, quando percebi já estava deitada no chão, com os joelhos no peito, deixando todo o sofrer mostrar seus poder de aniquilação. Ouvi ao longe a porta do banheiro indo a baixo e gritos que vinham de fora, mas uma voz eu reconheci: Clair. Gritava em plenos pulmões que ninguém ia entrar ali, ordenava aos seguranças que fizessem uma barreira para não deixar ninguém passar e também para me dar uma certa privacidade.

-Julia, cadê você querida. – sua voz era aflita, repleta de preocupação.

Espalmei minha mão no chão, por debaixo da porta da cabine, era único movimento que eu conseguia fazer naquele momento. Ao ver minha suplica de socorro, ela correu, o barulho do salto mostrou isso. Ela se ajoelhou pegou minha mão e deu um beijo carinhoso e falou.

-Você consegue abrir a porta?

Não respondi, comente recolhi minha mão, desconectando da dela, escorrei meu tronco na parede e levei meus dedos ao trinco de metal, com esforço consegui abrir. Ao ouvir o tilintar do fecho, Clair abriu a porta vagarosamente, pois tinha percebido que eu estava caída no chão. Ao ver meu estado deplorável, seus olhos castanhos se emocionaram, suas mãos logo me pegaram em um abraço.

-Estou aqui. – ela já havia me colocado no seu colo.

A frase dela permitiu meu choro agoniado sair sem menor pudor, parecia que havia sido chorado era algo superficial, a verdadeira dor estava esperando um apoio para se mostrar. Alguns minutos depois, em meio a soluços contei a ela a cena que eu tinha presenciado, a traição estirada perante meus olhos.

-Querida temos que sair daqui. – ela limpava meus olhos borrados. – Vou tirar você daqui sem problemas.

Nesse momento a balbúrdia que vinha do lado de fora só crescia, pareciam feras esfomeadas querendo se alimentar da minha desgraça. Aquilo fez meu cérebro raciocinar e lembrar da pessoa que eu era. Eu tinha acabado de ganhar o premio mais sonhado por todos os artista do mundo, além que meus fãs me admiravam por eu ser uma mulher forte e determinada. Eu não podia sair dali derrotada, eu tinha um nome a zelar, que demorei anos para conseguir.

Respirei fundo, catei mentalmente meus cacos, juro que poderia ouvir o barulho deles batendo contra minha sanidade, mas eu precisava ser forte naquele momento. Pedi um óculos escuro, levantei do chão, arrumei meu vestido e minha maquiagem. Tudo com o auxilio do meu anjo na terra: Clair.

-Você esta pronta? – Ela me perguntou depois que tinha me ajeitado, assenti com a cabeça. – Então vamos.

Saímos dali acompanhadas de vários seguranças, havia um mar de gente, misturado nele havia: alguns fãs preocupados comigo, outros curiosos e os repórteres, esse últimos gritavam várias teorias sobre meu comportamento, algumas absurdas e outras maldosas. Os flashes me deixaram tonta, graças que os braços firme de Clair me levava pelo caminho até o carro.

Entrei em um estado de entorpecimento até chegar em casa, nada parecia me afetar, como eu tivesse oca por dentro, com um vazio. Aquilo de certa forma era cômodo, meu lado racional fazia isso por mim, desligou-me da minha dor, me poupando para não expor toda aflição para o mundo, que lógico queria consumir aquilo. Chegando em casa tudo veio como uma avalanche, derrubou qualquer raciocínio lógico que poderia haver, era só dor que havia dentro de mim, os cacos do meu ser se espalharam por todo meu ser se perdendo. Foram dez dias assim.

Agora lembrar disso doía nada em comparação o que foi na época, que eu tinha impressão nesse exato momento de ter sido a um tempo muito antigo. Continuei andando no chão gelado de mármore da minha casa, o meu ser estava se juntando, se recuperando na sua velha forma.

Entrei no meu closet, vi o vestido daquela noite em um dos manequins que tinham a mesma forma do meu corpo, adoro colocar os vestidos usados em ocasiões especiais neles. Cheguei próximo aquela peça de arte, pois era perfeito, sua cor viva e seu tecido fluido, que caia até o chão, o fazia ser o sonho de consumo de qualquer mulher. Uma lembrança traiçoeira me veio ao passar os dedos no decote V que ele possuía.

A repórter que sempre cobria os inúmeros tapetes vermelhos que havia durante o ano, pelas diversas premiações que havia. Ela sempre foi uma das mais gentis comigo, nunca fazia perguntas indiscretas, sempre elogiava as escolhas feitas por mim na vestimenta, mas nesse dia especial, ela fez o seguinte comentário para mim e meu ex.

-Como é ter a vida a dois tão exposta assim?
-É algo inevitável. – O homem perfeito, que agora era um estranho para mim, falava. – Pois nós dois somos pessoas publicas, as pessoas tem curiosidade em saber como nos relacionamos.
-O amor de vocês é invejado por várias pessoas. – A repórter simpática comentou para mim.
-Somos como qualquer casal. – eu respondi feliz, o estado de espírito que eu realmente me encontrava naquele momento. – A diferença que nós temos nossos encontros e namoro vigiado por todos.
-É um amor exposto. – ela brincou.

Sem duvida ela tinha dito uma verdade naquele dia: Amor foi exposto e acompanhado por várias pessoas, então nada mais justos elas querem ver a dor também da separação, entretanto não estou disposta a me expor nesse sentido, esse sentimento amargo pertence somente a mim.

Balancei a minha cabeça e segui andando pelo closet, perto do banheiro havia uma caixa grande em cima de uma das bancadas, estranhei por um instante aquilo, sem delongas me aproximei do pacote. Em cima da tampa havia um bilhete, aquele letra era lida por mim desde do meus dez anos, era de Clair:

Quando quiser sair me ligue! Sei que não fará isso, então aqui está um disfarce para você sair sem ser reconhecida. Já combinei tudo com o porteiro, ele deixara você sair pelos fundos do prédio, pois ainda há muitos paparazzi na entrada. Aconselho você descer pela escada de emergência.

Exercite seu dom de atriz e acredite que você vai na esquina fazer compras e se distrair. Passará e ninguém te notará.

Depois da sua fuga, entre em contato comigo, sinto falta da minha amiga. Quero ver o brilho que tanto amo em você.

Te amo!

Clair.

Mais uma vez minha amiga tinha conseguido arrancar um sorriso e meu agradecimento sincero. Levantei a tampa e vi uma peruca de fios negros e longos ondulados, nada haver com meu cabelo loiro. Um óculos enorme, uma roupa simples, calça jeans surrada e uma blusa de alça branca, usada por qualquer pessoa. Hoje eu queria ser uma anônima no meio da multidão.

Colocando cada vestimenta fui me divertindo com a loucura proposta da Clair, me indagava se conseguiria sair despercebida em meio dos ensandecidos paparazzi. Dei algumas risadas com minha figura desengonçada, pelo menos para meu julgamento, mas não tinha nada a perder.

Desci as escadas, fazia tempo que não exercitava tanto as minha s pernas, elas formigavam um pouco, porém não reclamei pois isso mostrava que eu estava viva, coisa que eu havia desconfiava não ser real durante esse tempo de solidão. Ao me ver pelas escadas, o porteiro veio ao meu encontro do lado de trás do prédio. Falou da felicidade de ver eu bem, agradeci pela sinceridade e pedi encarecida que não contasse a ninguém minha escapada, um sorriso divertido me tranqüilizou que nada seria dito.

Corri até o portão acenei para ele, que o abriu sem demora. Andei três quadras apara direita, para despista algum paparazzi mais esperto, depois peguei a rua que ia para a praia. Andei hipnotizada pelo brilho do mar naquele dia ensolarado, a brisa da maresia me deixava seduzida para encontrar aquela beleza.

Não podia correr para não chamar a atenção, assim caminhei tentando controlar minha ansiedade. Ao atravessar avenida que chegava ao calçadão da praia, vi ao longe na frente do meu prédio um batalhão de carros e fotógrafos. Eu ri sozinha daquilo, da minha traquinagem.

Vi próximo a mim um quiosque, onde havia um grupo de mulheres jovens, com seus vinte cinco anos, tinham mais ou menos a minha idade. Elas pareciam ter saído da academia, visto suas roupas de ginástica. Elas bebiam água de coco com tanta satisfação que despertou o desejo em mim de também me servir. Dessa maneira pedi um coco para mim e me sentei em uma mesa próxima.

Usufruindo daquele liquido gelado, ideal para o sol que aquecia meu corpo por completo, ouvi o barulho de uma televisão ligada, estiquei meus olhos até a tela. Reconheci o canal de imediato, era um especializado em falar de celebridade, como era de se esperar o tema principal era minha separação.

O túnel ameaçou me capturar mais uma vez para me levar para escuridão e dor, no entanto meu lado racional ordenou: “tenho que saber o que esta sendo dito pela mídia. Além que tenho que enfrentar isso de frente, faz parte em ser uma pessoa publica”. Suspirei pesadamente, eu terei que enfrentar e assim o farei. As garotas do meu lado pediram para aumentar o volume, elas tinham interesse no assunto.

O programa fez um especial, mostrando todo começo do nosso relacionamento, como negamos no começo para mantermos nossa privacidade, depois o flagra de um dos nossos momentos românticos até o nosso casamento, classificado na época como o do sonhos. O estranho era que aquilo não me pertencia mais, como aqueles dois fossem estranhos para mim, em principal ele, era um desconhecido. Essa sensação era muito bizarra, mas não incomoda. Uma questão surgiu: como uma pessoa que era parte fundamental da sua vida se perde assim do nada?

Aquilo realmente me intrigou, no entanto o programa continuou, prendendo a minha atenção. Passou uma sessão de fotos que fizemos no dia dos namorados para uma revista, realmente as fotos ficaram lindas, éramos um casal bonito. Os comentários empolgados das mulheres logo surgiram :

“Como ele é lindo”
“Queria eu ter um homem desse”.
“Eles faziam um casal maravilhoso”
“Como ela pode ter o abandonado?”.
“Imagina o que ele deve ter aprontado.”

Esse ultimo me surpreendeu, me fez pensar em algo: “ O que ele tinha falado para mídia?” Como passe de mágica começou a falar sobre o dia em que tudo ruiu. Mostraram como eu estava linda, mais comentários surgiram na mesa ao lado sobre a forma como eu estava vestida. No entanto uma comentou:

“Olha como ela esta feliz. Não pode ser loucura dela, algo ele aprontou.”
“Se fosse comigo, ele poderia aprontar a vontade.”
“Você fala isso porque não é com você. Afinal até onde sei você é bem ciumenta.”

As amigas riam da que bufou irritada assumindo que amiga estava certa na sua previsão, inevitavelmente sorri baixo com aquilo. Uma saudade de Clair apertou dentro de mim. Agora passava as teorias que acreditavam ser possíveis, algumas engraçadissimas, outras de uma loucura tão grande que dava a pena do redator em ter tais idéias. No entanto a mais concreta era que ele tinha me traído. Porém ele negava veemente, ainda completava que eu tinha enlouquecido, mas que me perdoava. Aquilo fez meu sangue borbulhar nas minhas veias, a cara de pau dele. Agora eu bufava irritada.

Para completar, no final da reportagem falaram que eu tinha tentando me matar inúmeras vezes, mentira deslavada, que eu queria morrer de tristeza, que eu era uma fraca. Não estava acreditando no que ouvia: estavam me condenando por preferir ficar calada, dizendo que aquilo era uma fraqueza minha. Muito provavelmente eu não retornaria a minha carreira. Que tudo tinha acabado para mim, afinal éramos o casal mais badalado do mundo da celebridade.

As garotas concordaram com a idéia vendida pela mídia, isso me desanimou muito, talvez eles tivessem razão. Todavia uma delas esbravejou com as amigas, despertando da minha tristeza:

-Ela uma mulher linda, sempre foi independente do marido, sempre fez os projetos a parte dos dele, sempre expôs opiniões interessantes. Só por que ela preferiu ter um momento sozinha isso mostra que ela é fraca? – a indiguinação nos seus olhos verdes era motivador para mim. As amigas não responderam. – Quem aqui gosta de sofrer e chorar na frente dos outros?
-Ninguém – resmungou a que antes se empolgava em falar da beleza incontestável do meu ex-marido.
-Então, nenhuma mulher deveria crucificá-la, mas sim apóia-la. – ela continuava o discurso. – Nós sabemos quanto dói separar de alguém. – Todas concordaram envergonhadas. - Imagina o quanto deve ser mais difícil ainda toda sua dor sendo exposta para todos verem e opinarem sobre ela?
-Você tem razão. – outra comentou pensativa.
-Torço muito que ela venha mais linda do que nunca e cale a boca desse ex que fica agora falando um monte de besteiras sobre ela. Porque talento para isso ela já mostrou que tem, até o maior premio ela ganhou como prova disso.

Aquela estranha falou tudo que eu precisava ouvir, como uma fênix, que ressurge do meio das cinza, senti um fogo aquecendo, talvez seja a força do meu amor próprio, que apareceu imponente dentro de mim e me mostrou o quanto ela estava certa e que eu queria aquilo para mim. Assim caminhei até o grupo, que se ficou receoso com a minha aproximação, lançando olhares de incompreensão.

Quando estava a um passo tirei a peruca e óculos, gritos surgiram e assombros também, elas nunca imaginariam que eu estava ao lado escutando tudo. Sem pedir licença abracei a mulher que fez o discurso que me deu vontade de voltar a caminhar. Seus baços me apertaram no movimento, pude sentir uma energia boa vindo dessa pessoa. Afastei-me e disse.

-Obrigada pelas suas palavras. Elas foram fundamentais para mim.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Essa historia foi pensada quando eu ouvi uma musica da Madonna: She´s not me.

Apartir dai a historia tomou outro rumo, espero q gostem.


Graças a Deus algazarra feita por Bruno pela chegada de Cristian me despertou e retirando-me de mais um pesadelo que insiste em assombrar minhas noites. Mudava o ambiente a situação, mas o personagem central sempre era o mesmo: Ela.

Espreguicei-me na cama, colei meu rosto no meu travesseiro e de repente parei no meio do movimento, pois senti um cheiro, esse que senti durante sete anos, era o Dela. Aspirei, me intoxicando um pouco, porém joguei aquele troço, para mim naquele momento, era demoníaco. Agora as alucinações eram olfativas também? Não bastava as visuais?

Ela sempre aparecia para me atormentar no meu dormir, já fazia um mês que sua presença importunava e comprometia os meus sonhos, porque perturbar meus pensamentos quando estou acordado isso Ela já faz a dois meses.

Levantei em um pulo queria sair dali, olhar para aquela cama me fazia lembrar alguns momentos com ela, sacudi a cabeça em uma tentativa infantil de espairecer qualquer memória. E comentei mentalmente para mim mesmo: “Vou comprar uma cama nova.”

Comecei coçar meus olhos devido ao sono, abri a porta ouvir o som da bagunça dos meninos aumentarem. Contudo agora os flashes dos pesadelos anteriores voltaram em minha mente, abri os olhos e dei um suspiro pesado, em seguida saiu em voz alta um:

-Droga! – Resmunguei irritado.
-Bom dia para você também Ricardo. – Bruno falou brincalhão.
-Que recepção calorosa. – Debochou Cristian.
-Esse bom humor matinal dele está cada dia melhor. – Bruno totalmente irônico comentou.

Os dois estavam sentados nos bancos do balcão da cozinha, onde não tinha nada preparado para o café da manhã. Logo lembrei: Hoje é sábado e como sempre eles estavam esperando por Márcia, a minha irmã que também dividia o apartamento com a gente e ainda, para minha infelicidade namorava o Bruno. Para que ela preparasse nosso “café de hotel”, onde tinha tudo que a gente gostava, desde ovos mexidos até suco de laranja natural, praticamente um banquete todo sábado.

Sei que os meninos e ela iriam me perturbar e assim começaram:

-E por que você está com essa alegria toda? – Cristian me perguntou.
-Muita coisa mudou nos seus três meses que você passou viajando Cris. – Intrometeu Márcia, que veio até o recém chegado e deu um abraço de boas vindas. – Que bom que você chegou bem. Me conte de sua viagem.
-Não! – ele falou se levantando. – Quero saber tudo vocês vão me contar. – Os dois namoradinhos confirmaram com a cabeça. – Antes tenho que guardar as minhas coisas.

Cristian pegou suas bagagens e saiu feliz em direção ao seu quarto, falando como sentia falta do recinto, como era bom voltar para casa, essas coisas que sempre é falado em retorno de viagem.

Alheio aquilo tudo caminhei até a geladeira, no modo automático a abri, acho que para pensar um pouco na vida, pois parei na sua frente e não peguei nada. Meu estomago estava com fome, protestava com roncos altos, no entanto sabia que me irritaria com o reviver de toda historia.

Márcia me tirou da minha automação pedindo que tirasse as coisas da geladeira para ela começar a preparar nossa refeição matinal, assim o fiz de má vontade jogando os ingredientes no balcão da cozinha sem ao menos olhar como eles pousavam. Minha irmã me encarou rindo e perguntou:

-Como foi o pesadelo de hoje?
-Não quero nem lembrar.

Respondi fechando a porta da geladeira com força, ouvi Bruno resmungar da minha atitude, entretanto não lhe dei ouvido e sentei em um dos bancos da cozinha, colocando a mão no rosto.

-Se você não contar não faço o “Café de Sábado”. – Ameaçou toda serelepe minha “adorada” irmã cruzando os braços no peito.
-Você gosta de me ver sofrendo? – Tirei minhas mãos do meu rosto e a encarei com uma careta. Vi o sorriso debochado que tanto odeio desde quando éramos pequenos.
-Desde que você terminou com... – Antes que ela continuasse fiz um gesto de ameaça para que ela não pronunciasse o nome Dela.

Minha irmã concordou e não falou o maldito nome, que sempre evitava a todo custo dizer em voz alta desde dia que dei fim ao nosso relacionamento, agora mais ainda, pois Ela já me assombrava sem ser citada, tinha medo de essa loucura piorar se o nome dela fosse pronunciado em voz alta.

-Vou fazer o café e você abre a boca. – Márcia apontou para mim de maneira brava.

Não tinha mais o que argumentar: eu teria que falar. No entanto esperarei o inquérito dos três carrascos.

Cristian sentou ao meu lado, perguntou a minha irmã se queria ajuda, entretanto rejeitou. Então sua atenção voltou para mim, com a expressão curiosa, suspirei pesadamente, não teria como fugir.

-Por onde você quer começar? – Eu perguntei derrotado para Cristian.
-Você vai ter que me contar tudo que aconteceu na minha ausência.
-Sorte que hoje é sábado e está chovendo. – Brincou Bruno sentando do meu outro lado. -Primeiro nos conte o pesadelo dessa noite. – Márcia perguntou enquanto fazia ovos mexidos.

Ajeitei meu corpo no banco buscando uma posição confortável, porque a historia é comprida. Bufei irritado e comecei:

-Eu estava num corredor bem cumprido, daqueles de filme de terror com várias portas e as paredes eram escuras, não me lembro direito. A única coisa que me chamou atenção foi Ela vestida com vestido que dei no nosso quinto ano de namoro.
-Aquele vermelho que te ajudei escolher? – Perguntou Márcia com a colher apontando para mim.
-Ele mesmo. – Eu confirmei. – Ela sorria para mim de maneira divertida e caminhava na minha direção. Lembro-me de ficar nervoso com sua aproximação, não sabia o que falar. Tudo parecia estar em câmera lenta, isso a deixava mais linda, mas seus olhos tinham uma fúria velada, uma coisa meio sombria.
-Caraca que estranho. – Cristian falou.
-Ih tem piores. – Bruno comentou rindo. – Teve um de baile de mascara que todas eram Ela.
-Esse ainda me dá calafrios. – Eu lembrei e continuei. – Ela continuou caminhando, quando ficamos próximos, ela veio até meu ouvido e sussurrou: “Você nunca vai esquecer-se de mim.” Depois disso ela deu uma risada malévola e passou por mim, quando virei vi ela multiplicada em várias, todas rindo de mim.
-Pelo jeito ela esta certa. – Riu Bruno. – Afinal você tem a visto tempo todo.
-Como assim? – Cristian me indagou. – Você a vê?
-Vejo ela de relance na rua, quando estou com uma garota logo vejo que ela tem alguma coisa que me lembra Ela. – Relatei agoniado. – A boca dela, os olhos dela, a expressão dela, o sorriso. Todas elas parecem ter um pedaço dela.
-Isso realmente é perturbador. – Cristian falou. – e por que você afinal terminou com ela?
-Eu nunca entendi essa decisão dele. – Márcia emendou arrumando os nossos pratos.
-Ele é doido. – Bruno comentou. – Largar uma garota como Ela, nunca deu trabalho pra ele. – Nesse momento ouvimos um pigarrear da minha irmã, mostrando sua insatisfação, imediatamente Bruno levantou e abraçou. – Amor, você é perfeita para mim, já Ela era perfeita para seu irmão.
-Eu queria ter liberdade, quero curtir a vida. – Eu respondi irritado com aquela ceninha romântica. Meu cunhado revirou os olhos para mim e bufei irritado. – Comecei namorar com 17 anos, não vivi a fase de ir à caça, nosso relacionamento estava cada dia mais e mais sério.
-Lembro-me de você ter comentado isso comigo antes de viajar. – Observou Cristian.
-No mês que você viajou ele tinha sumido lembra? – Perguntou Bruno – e que Ela quase nos enlouqueceu com tantas perguntas e telefonemas atrás desse maluco?
-Oh se lembro. Quase não conseguimos dormir aquele mês. – Cristian recordou. – Aonde você se meteu nesse tempo?
-Fui para casa dos meus pais na praia, queria um tempo para mim.
-Invés de falar isso para Ela, simplesmente sumiu. – Márcia sempre me recriminava por causa disso.
-E ela ficou que nem uma maluca no meu encalço. – Tentei argumentar.
-Você sumiu sem dar noticia. – Ela gritou mostrando quanto obvio era seu argumento.
-Você não conversou com ela sobre seu sumiço? – Cristian me perguntou perplexo.
-Não. – eu já estava irritado. – Simplesmente voltei e falei que precisava daquele tempo para mim. Ela me entendeu, ficamos mais um mês juntos, mas nosso namoro ficou muito na amizade e cada vez mais eu precisava ter tempo para mim.
-Assim você terminou com ela? – Cristian me indagou.
-Ele fez pior do que na primeira vez. – Bruno falou antes de mim.
-Não é possível? – Cristian estava assustado.
-Conta para ele o que você fez. – Bruno me provocou.
-Mandei um e-mail para ela, falando que não queria mais namorar. – Falei envergonhado.
-Caraca, você sempre me surpreende. – risada sarcástica de Cristian me incomodou.
-Mas Cris. – chamou Márcia terminando de por nosso café no balcão. – Isso só o fez sofrer.
-Essa historia esta tendo reviravoltas interessantes. – Cristian falou sarcástico. – O que você quer dizer com isso Márcia?
-Ele pensou que ela iria ficar em busca dele, como na primeira vez. Que ligaria chorando como fez. Mas ela não fez nada disso.

A risada de Cristian cortou a cozinha, Bruno e Márcia o acompanharam, eu me senti mais derrotado ainda, mesmo querendo negar para os outros, praticamente para o mundo inteiro, era isso mesmo que me incomodava, ela não tinha sofrido por mim.

Na semana seguinte eu esperei alguma reação, esperei as ligações, os choros, os e-mails raivosos. No entanto nada veio, nem sequer uma noticia. Corri para sua pagina nas redes sociais, elas foram apagadas, seu celular tinha sido desligado. Ela simplesmente sumiu, era oposto disso que eu esperava.

Esperei mais dois dias nenhuma noticia sequer, mesmo aproveitando minha solteirice absurdamente, minha mente sempre voltava a me incomodar com idéia da ausência Dela, com sua falta de qualquer reação por mim esperada. No entanto depois de um sábado de muita farra cheguei em casa pela manhã e tinha na porta do apartamento uma caixa, com um bilhete repousando em cima das coisas que eram minha que tinham ficado em seu apartamento.

Um sorriso escapou no canto da minha boca junto com um “Eu sabia” presunçoso. Peguei o pequeno papel, pensando que era uma carta dobrada repleta de dor e lágrimas, porém era um cartão com a seguinte frase: “Seja feliz na sua escolha.”

Não sei o motivo que aquelas cinco palavras me desconcertaram, não era algo esperado por mim, queria saber como ela estava, será que ela tinha sofrido com a minha falta? Reli o bilhete, seco e direto, logo uma idéia orgulhosa surgiu: “ela deve estar sofrendo muito por mim, por isso não escreveu mais.”

Assim uma idéia apareceu: “ vou até a casa dela para ver se Ela precisa de mim.” Mesmo sujo da madrugada toda em uma boate, segui para sua residência, o sol já estava esquentando o dia, parei meu carro, quando estava saindo a vi caminhando com seu cachorro. Logo meus olhos percorreram seu rosto, talvez visse uma olheira funda, afinal tinha menos de duas semanas da nossa separação.

Todavia ela estava deslumbrante, mais linda como nunca a tinha visto, seu sorriso era largo e contente. Aquilo me pegou desprevenido, Ela estava muito bem, como nunca esteve, me lembrei de sua figura abatida depois de um mês do meu sumiço, da dor que havia nos seus olhos. No entanto agora nada disso havia, era só felicidade. Aquilo me inervou.

Fiquei durante os meses seguintes buscando alguma lógica para reação inesperada por mim, me peguei pensando: Será que ela chorou por mim? Será que ela não me amava mais? As perguntas pareciam me consumir. Mas eu não queria ficar pensando nela ou nas indagações, sai a campo, porém nem isso estava colaborando.

Com o passar do tempo as coisas foram piorando, comecei a ver ela a todo instante nos rostos das outras meninas ou até vultos dela. Aquilo estava me consumindo, queria que aquilo parasse de alguma maneira, até namorar outra garota eu tentei, porém comecei comparar uma com a outra, além que sempre era lembrado pela minha memória os momentos vividos com Ela, a conclusão sempre era mesma: aquela mulher não era Ela e nunca seria. Nenhuma seria. Assim acabei magoando outra pessoa.

Levantei inquieto da mesa, a comida podia ser convidativa no seu aroma e visual, porém meu estomago nada queria. Toda aquela verdade era muito incomoda e perturbadora para mim. Os três me olharam preocupados. Logo Cristian me perguntou o que minha irmã cansou de perguntar durante esses dois meses:

-Você a ama?
-Não importa. – Esbravejei. – Ela já não me ama mais.
-Como você pode ter tanta certeza? – Bruno falou compadecendo da minha angustia.
-Porque eu fiz isso. Eu sou culpado por ela não me amar. Eu destruí tudo com meu egoísmo.

A raiva que comecei a sentir de mim mesmo foi me corroendo com um acido, nunca tinha exposto meus sentimentos assim, mas ali estavam três pessoas que sempre estiveram ao meu lado a todo o momento, nos meus erros e acertos. Márcia veio ao meu encontro envolveu seus braços no meu corpo, tentando me acalmar.

-Sempre podemos mudar a nossa história: basta ter coragem e vontade para isso. – Seus olhos eram carinhosos.
-Não tenho tais predicados. – Respondi derrotado com a minha fraqueza.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ultima parte do capitulo...

Bells brigada pelo carinho sempre!!!


- Não tenha medo. Não vou ferir você e nem suas meninas. Eu estava esperando por vocês, para poder ajudá-las - Seus olhos eram lilás claros, pude ver bem nitidamente devido aproximação com os meus.

Fiquei paralisada e desarmada. Parecia que aquela estranha mulher sabia mais da minha vida, do que eu mesma. Como era possível isso? As perguntas que estavam explodindo na minha cabeça calaram-se, ficaram tão supressas quanto eu com a resposta daquela estranha. A olhei com perplexidade, não sabia o que fazer ou dizer. Ela deu uma risada baixa, pegou novamente meu ombro e voltamos a andar.

- Podemos continuar andando? – Perguntou de forma bastante gentil.- Suas roupas estão encharcadas, deve estar com frio.

Somente assenti com a cabeça. Realmente o frio começava me atacar, fazendo meu corpo ter espasmos musculares, pareciam protestar a respeito aquela roupa ensopada colada em meu corpo. Era muito estranho como aquela mulher parecia olhar dentro da minha alma, seus olhos lilás pareciam me conhecer por completo. Não havia segredos entre nós. Continuamos a andar em meio a tempestade sem fim.

Vi uma casa ao longe, as paredes eram brancas e com janelas de madeira escura. Atravessamos um jardim, que parecia ser bem cuidado, não conseguia julgar perfeitamente por causa da chuva, que embaçava bastante a minha visão.

Ao chegar à varanda da casa, ouvi uma voz de criança. Tinha impressão de ser um grito de felicidade. Fiquei feliz e ao mesmo tempo surpresa. Foi quando a misteriosa mulher passou a minha frente e estava abrindo a porta. Eu fiquei paralisada na porta, aquilo tudo era inacreditável.

Vislumbrei a sala, muito bem iluminada, havia duas poltronas beges colocadas lado a lado, tinha uma linda e simples mesa de centro, onde estava repleta de brinquedos e fraldas, abaixo dessa mesinha havia um tapete de palha, de um tom bege claro. No outro canto da sala havia uma mesa enorme com pilhas de roupas de crianças.

Fiquei encantada com arrumação e a limpeza. Sem duvida era um lugar aconchegante, fui imediatamente seduzida pelo clima de paz, que esse ambiente me transmitia. Entrei vagarosamente na casa, olhando cada detalhe. Quando passei o ultimo pé pela soleira só ouvi o bater da porta se fechando, atrás de mim. O susto me fez virar imediatamente, então vi uma menininha morena. Ela tinha os olhos negros como à noite, mas muito brilhantes, que combinavam perfeitamente com seu cabelo liso e preto. Percebi que foi ela quem fechou a porta.

Ela abriu um sorriso encantador ao encontrar meus olhos, parecia que conhecia aquela pequena de apenas dois anos de idade. De certa forma sentia que ela me pertencia de alguma maneira estranha. Ela olhou para mim sorrindo, esticou os braços, pedindo que eu a pegasse no colo. Retribui o sorriso e atendi seu pedido. Quando a ela se ajeitou em meu colo, passou os bracinhos pelo meu pescoço e me deu um beijo.

- Bem vinda ao lar. – olhando bem fundo nos meus olhos. Senti realmente que tinha retornado ao um lugar que nunca deveria ter saído. Fui inundada por um mar de emoção e sentimento. Aquela pequena criança me fez ver que tinha escolhido o caminho certo, mesmo sem saber qual era. Senti meus olhos afogarem em lagrimas.

- Mary, a deixe terminar de entrar e de nos conhecer direito- disse a mulher misteriosa de forma bastante afetuosa- teremos muito tempo para conversar e conviver. Você não deveria estar dormindo mocinha?

Não havia percebido a presença da mulher ao meu lado, até o momento que ela tentou pegar a Mary de meu colo. Contudo a menina não quis sair, apertou os braços em volta do meu pescoço, me surpreendi a força desse abraço, ela aparentava ter um ano de idade, mas a força era equivalente a uma criança de oito anos.

- Diga-me aonde que ela dorme, eu mesmo a coloco na cama. – pedi a mulher sem ao menos um minuto tirar os olhos de Mary- Vamos dormir?

Ela saiu do esconderijo dos meus cabelos, me deu um largo e sincero sorriso. Voltou a conchegar em meio aos meus cachos, suspirou profundamente e se entregou aos sonhos. A mulher misteriosa assentiu de bom grado. E conduziu-me até um quarto verde, onde havia cinco berços, três de um lado e dois do outro. Havia também duas camas de solteiro ao final do quarto. E uma mesa alta no meio do quarto onde havia uma pilha de fraldas de pano. Tudo muito bem arrumado e organizado. O cheiro de bebê era inebriante, era aconchegante e caloroso aquele quarto, parecia estar repleto de amor e cuidado.
Coloquei Mary no primeiro berço, estava vago e ela já dormia tranquilamente em meus braços. Havia uma paz enorme naquele cômodo, como nada de ruim pudesse acontecer ali, senti um conforte e paz. Tudo parecia estranhamente familiar e esperado. Caminhei ao longo do aposento, tocando tudo que podia com as pontas dos dedos, avaliando se tudo aquilo era real.

Quando me virei para analisar o os outros dois berços que estavam ao lado de Mary, notei que havia mais duas crianças. No primeiro havia uma menina de cabelo castanho escuro, com leves tons de avermelhado entre as mechas, a cor de sua pele era um tom moreno claro, uma boca bem carnuda e bochechas bem rosadas. Passei vagarosamente os dedos em seu rosto, ela não acordou, mas mexeu como agradecida pelo carinho. Ela devia ter um ano e alguns meses de idade. Ao sair vi que tinha uma placa com um G em cima do seu berço.

Ao virar para o outro berço vi outra menina, essa tinha o cabelo liso e dourado como sol, era branca, mas não em um aspecto doente, nunca tinha visto alguém daquela cor. Olhei para placa e vi que seu nome era Nina. Parecia ter a mesma idade da Mary. Comecei acariciá-la no rosto e fui descendo pelo seu braço direito, admirada pela cor da sua pele. Quando passei os dedos sobre sua mão, ela pegou o meu dedo delicadamente, ainda dormindo sussurrou algo incompreensível. Parecia queria me dizer algo muito importante e urgente. Eu ri sozinha do seu gesto, ela não queria soltar o meu dedo.

-Amanhã nos conheceremos melhor, estarei aqui para ficar com você. – Disse lentamente, sussurrando mais baixo possível. Foi nesse momento que ela deu um sorriso e me libertou.

Precisei de um minuto para absorver tudo que havia acontecido nesse quarto. Muitas emoções estavam presentes dentro de mim, maioria delas nunca eu tinha sentindo anteriormente. Como poderia ter me ligado a essas três meninas tão rapidamente? Elas pareciam que me aguardavam. Eu também estava reencontrando com elas, sentia que elas eram minhas filhas.

Lembrei da frase da mulher misteriosa a caminho da casa. Não vou ferir você e nem suas meninas. Será que ela se referia as meninas do quarto ou que eu estava esperando mais de uma criança? Sempre soube que daria a luz a uma menina, desde começo senti, eu tinha essa certeza muito clara dentro de mim.

As perguntas que estavam em minha mente antes de eu entrar naquela casa voltaram a rodar rapidamente, como um espiral, eram tantas e estavam completamente inquietas dentro de mim. Senti-me tonta, cambaleei um pouco, quando estava quase encontro ao chão, senti uma mão me segurando.

-Você precisa se alimentar. Quanto tempo está sem comer? – Disse a mulher misteriosa me levando para a cozinha.
- Não sei – murmurei pensando sobre ultima refeição. Aconteceu tanta coisa que parecia que havia se passados anos. Era como fosse outra era, como uma vida passada.
- Você esta com fome, posso ouvir seu estômago – Disse de forma humorada – Espero que goste da comida.

Sentei-me à mesa de madeira e olhei a minha volta, a cozinha era bem ampla. Olhei para o fogão de lenha, vi uma panela alta, o cheiro que vinha dela parecia de uma sopa deliciosa. Meu estômago fez mais um barulho alto que pode ser ouvido até do lado de fora da casa. Quem estava dentro de mim também estava protestando a sua fome. Então a mulher pos um prato de sopa na minha frente.

- Bom Apetite. Se quiser tem mais sopa na panela, pode pegar o quanto quiser. – Ela se sentou ao meu lado com seu prato a sua frente.
- Obrigada pela sua gentileza.

Foi a primeira vez que olhei aquela mulher de forma detalhada. Ela aparentava ter uns quarenta anos, cabelo negro longo, presos numa trança embutida, pele morena clara, do mesmo tom da pele de Mary. Seus olhos eram lilás, como eu tinha visto lá fora. Era alta e esguia, havia uma elegância nela do tipo que lia em livros sobre realeza. Ela me deixou analisá-la sem parecer desconfortável com a minha atitude. Foi quando olhei para os seus olhos gentis.

- Você deve ter várias perguntas. Meu nome é Lisa e sei que seu nome é Sarah, você terá duas meninas. - Ela parou e avaliou a minha reação antes de continuar. - Teremos bastante tempo para responder qualquer pergunta que você tiver. Mas antes de tudo quero que saiba, você tem a opção de ir embora hora quiser. O destino tem um esboço para todos nós, contudo nós que decidimos se aceitamos o plano original ou escrevemos outro. Enfim espero que possa confiar em mim, como já confio em você. Agora você pode perguntar o que você quiser.

Ouvi tudo com muita atenção, não queria perder nenhum detalhe do que Lisa falava. A segurança com o que ela falou me tocou profundamente. Estranhamente sempre senti que o destino tinha planejado algo a mais para mim. Algo realmente surpreendente. Não que fosse um ser especial, mas estava preparada para participar de algo único. Acho que encontrei aonde realizarei essa tarefa, mesmo que ela não esteja ainda clara para mim.

- Não quero outro plano, parece que o destino já traçou o meu mapa, e sinceramente me agrada e muito esse original. Não sei o que vai acontecer, só não sinto medo e sim uma certeza imensa de que achei finalmente o meu lugar.
- Ótimo. Sempre estaremos juntas. - Disse pegando minha mão e sorriu.- Esperando o tempo necessário pela nossa outra filha.

Não consegui compreender a sua última frase, porém não queria mais pensar em nada, somente comer aquela deliciosa refeição. Ficar preparada para uma jornada incrível que minha vida estava começando traçar à minha frente.

Meu coração transbordou um pouco mais de amor, eu teria outra filha. Não sei quando e como ela surgirá no meu caminho, contudo esperarei a cada dia pacientemente. Guardando todo meu amor para o dia que ela chegar.

Comemos e conversamos durante toda a madrugada. Nunca havia me sentindo tão feliz em toda minha vida. Aquele era o meu lugar, ali estava minha verdadeira família.

domingo, 25 de julho de 2010

Continuação do capitulo...



-Não vou permitir que você me trate como um bicho abandonado que precisa de dono. Sei que posso ser uma vergonha para vocês dois, contudo é da minha vida que estamos falando. Não vou me casar com qualquer um só para ter algum tipo errôneo de dignidade. Não há nada de digno em casar sem amor. Não repetirei o erro de minha mãe.

Foi então que senti um tapa cortar minha face, com tamanho ódio que era quase tangível. Ao mesmo tempo ouvi o grito abafado de minha mãe ao ver aquela cena. Senti o sangue em minha boca, ao mesmo tempo me veio uma ira quase incontrolável. Quando me virei, vi meu pai tremendo involuntariamente de raiva, quase em tipo de convulsão, seu rosto demonstrava um horror, o animal dentro dele também estava ferido.

Limpei o sangue no canto da boca com as costas da mão direita. Sustentei o olhar do meu pai e sai da vagarosamente da sala, indo em direção ao meu quarto. Peguei uma mala pequena e pus poucas mudas de roupas, pois sabia que a pouco não dariam mais em mim.

Sai do quarto com mala em punho, quando vi meu pai no canto da sala olhando pela janela a chuva que cai torrencialmente. Enquanto minha mãe soluçava freneticamente e quase se afogava em suas próprias lagrimas. Lançou-me um olhar de terror quando viu o que carregava na mão, ela sabia de imediato o significado desse ato. Assim correu ao meu encontro e chorou copiosamente entre os meus cabelos castanhos escuros.

Pus minha bagagem no chão, peguei-a pelos ombros e a afastei olhando para seu rosto. Comecei analisá-lo calmamente, havia rugas nos cantos dos olhos, elas tinham o significado de como a vida daquela mulher foi de sacrifício e omissão ao lado do meu pai. Talvez se elas tivessem voz, me diriam quanto era difícil toda sua vida. As lagrimas caiam sem parar dos seus olhos, eram dois rios contínuos. Comecei a limpa-los com meu dedo indicador. Seu rosto era de suplica e desespero. Meus olhos marejaram ao encontrar aquele quadro de desolação de minha mãe.

-Mãe, não posso viver como você. Não conseguiria sobreviver nem um dia sequer. Sei que não parece racional esse amor que sinto por ela – coloquei gentilmente a mão em minha barriga – Não nasci para ficar pressa a ninguém que não seja a ela. Então desculpe-me por não ser merecedora de ser sua filha.

Abracei a lentamente, deixando que ela molhasse mais um pouco meus cabelos. E também me prendi a sentir seu cheiro, sabendo aquela seria provavelmente a ultima vez que a veria. Dessa forma a olhei com os olhos, houve uma cumplicidade mutua, não éramos mais mãe filha. E sim duas mulheres fortes que admiravam uma a outra. Antes desse momento nunca houve anteriormente um momento tão próximo de nós duas. Aquele seria um momento único, guardado dentro de mim. Vi no fundo dos olhos de minha mãe uma admiração silenciada, estava lá o seu orgulho pela minha coragem.

Enxuguei as minhas lágrimas e as dela, de forma bem gentil. Passei a mão em seus cabelos sedosos que caiam até os ombros, para limpar seu rosto dos fios que ficaram presos devido suas lagrimas. Abracei novamente, sabia que seria pela ultima vez. E sussurrei em seu ouvido.

- Vai ficar tudo bem. Não há motivo de preocupação. Eu estou muito feliz com a minha escolha- admiti. Ela piscou freneticamente para mim, como acabasse de levar um susto com as palavras que acabei de pronunciar.

Dei um beijo em sua testa, peguei minha mala do chão. Olhei minha mãe pela ultima vez, tentando guardar cada detalhe daquela imagem. Fechei os olhos memorizando tudo por um segundo e me virei para abrir a porta. Sai em meio a chuva grossa, e sem olhar para trás, sem ao menos ter mínima duvida da minha decisão.

Comecei a andar rapidamente até a rua, havia poças e mais poças de água em meu caminho, minhas roupas já estavam encharcadas somente ao percorrer esse pequeno caminho. Elas estavam pesadas, ou eu sentia um peso a mais devido a minha escolha? Para onde eu iria? O que aconteceria agora?

Perguntas me invadiam de forma quase acusatórias. Contudo me sentia tão segura sobre minha escolha que não me permitiria enfraquecer em frente a essas palavras. Olhei para os lados, decidindo para onde eu iria. Não conseguia avistar nada, devido ao temporal incessante, minha mente também não estava apontando caminho nenhum. Respirei fundo, deixei meu coração me levar para qualquer lugar.

Enquanto andava pelas ruas de Jilas, sem rumo algum, pude sentir vários olhos me encarando através das janelas das casas. Senti uma pontada de pena de minha mãe, as historias e acusações que a fariam devido a minha decisão de sair de casa. Podia ouvir em minha cabeça as pessoas falando: “sua filha fugiu solteira e grávida”. Estou ciente que essa idéia lhe causaria dor, sem duvida haveria um gosto amargo de impotência. Já que questionaria sua competência como mãe, aos olhos dos outros ela havia falhado.

Abaixei a minha cabeça, talvez para tentar esconder meu rosto, minha mãe não merecia mais sofrimento em sua vida. Entretanto já havia tomado minha decisão, não havia possibilidade de voltar. Dessa maneira continuei meu caminho sem destino definido, ao longo do caminho pude refletir um pouco sobre a minha vida. Deixei minha mente vagar, não prestando atenção em que direção seguir, meus pés moviam involuntariamente. Sabia que tinha que andar para bem longe dali, e assim o fiz. Minhas pernas moviam-se e minha mente viajava ao longo dos meus pensamentos.

Sempre soube que minha vida não seria como as demais mulheres de Jilas. Eram criadas desde mais tenra idade, para serem perfeitas mães e esposas. O seu papel na família era como de um serviçal sem direito a nenhum tipo de recompensa. Viviam somente para servir aos caprichos de seu marido e filhos, não podiam esperar nenhum tipo de carinho em troca.

Trabalhavam para manter o perfeito funcionamento da casa, que sempre devia estar muito bem limpa e decorada. Os horários de refeição deveriam ser obedecidos de acordo com desejos dos maridos, elas deviam cozinhar o que eles gostavam. Em nenhum momento havia preocupação de que essas mulheres deviam ser amadas e desejadas. Alias uma mulher não poderia chamar atenção para sua beleza, esse tipo de vaidade era visto como um comportamento desviante. Devia preocupar-se somente com sua família, mesmo que houvesse sacrifícios pessoais.

Os homens controlavam todas as decisões sobre o grupo familiar, principalmente em respeito a suas esposas e filhas. Eles eram os únicos que “sabiam” o que eu seria melhor para destino das mulheres. Os sentimentos sempre ficavam em segundo plano quando unia se um casal. Outros interesses eram priorizados, principalmente os financeiros.

Não era permitido sonhar em ter outro destino que não fosse do matrimonio e da constituição de uma família. Se ela fugisse a regra seria vista como uma aberração. Era condenada e rechaçada, não podia viver entre as famílias de Jilas, pois não era digna. Constantemente chamada de mulher da vida, pois havia escolhido o caminho “errado”.

Então não conseguia me ver como essas mulheres que haviam escolhido caminho “certo”. Não podia conceber uma vida para mim onde teria como única função servir como uma escrava a um homem. E viver essa escravidão até que a morte me encontrasse. A mim essa idéia parecia muito distante, nunca compartilhei dessa maneira de viver. Entretanto não sabia o que esperar da minha vida, afinal será que havia outro tipo de pensar?

Assim sempre deixei a vida passar por mim, trazendo as supressas ao longo do seu passar. Levei-me pelas emoções que tocavam ao meu caminhar, sendo sempre fiel aos meus sentimentos, atitude não muito comum entre as mulheres. Privavam-se o tempo todo dos seus sonhos e desejos, em busca de um ideal previsto pelos homens.

Como fosse de esperar o amor me encontrou de frente de forma inevitável. Vivi esse amor de forma intensa e louca, como todo amor deve ser vivenciado. Como não houvesse tempo suficiente para viver aquele sentimento na sua totalidade. Soube desde inicio que ele não seria o meu marido, nem queria ele nesse papel. Sempre vi os homens transformando em donos de suas esposas, como se elas não tivessem mais vontade própria, vivam por e para eles. Não queria aquela escravidão para mim.

De repente meus devaneios íntimos foram interrompidos pela aproximação de uma mulher. Andava de forma firme e decisiva, uma maneira incomum para uma senhora, devia estar marchando. Chegou bem perto de mim, colocou uma capa, similar com a que estava usando, pegou-me pelos cotovelos e me girou de forma que ficasse ao seu lado. Passou uma das mãos pelo meu ombro e a outra pegou a mala de minha mão. Começamos andar em direção a uma casa. A olhei incrédula, como ela poderia querer ficar perto de mim? Será que ela não tinha visto o estado em que me encontrava? Essa mulher queria alguma coisa comigo?

Andamos em meio a chuva, as gotas pareciam bolas de gudes, caiam sem parar, formando poças e mais poças ao caminho de uma casa. Como vaguei a alheia em meus pensamentos anteriormente, não via onde estava indo. Foi quando percebi que estava próxima a praia de Sula, era uma das mais isoladas, onde havia pouquíssimas casas.

Não conseguia olhar para o lado, a chuva cobria qualquer tentativa de descobrir quem estava ao meu lado, só sabia que era uma mulher porque tinha visto a barra de seu vestido. Foi então que as perguntas inundaram minha mente, cada vez mais inquietas, mas havia uma que não parava de girar. Por que essa mulher esta ajudando uma desconhecida grávida?

No segundo seguinte parecia que obtivera algum tipo de resposta. Meu instinto materno pareceu gritar em plenos pulmões: ela queria minha filha.

Parei de andar de imediato, coloquei a mão na minha barriga de forma protetora e a lancei um olhar furioso. Sentia-me como uma Leoa defendendo seu filhote, se ela me atacasse ou a minha filha, seria capaz de matar aquela estranha. Não haveria remorso para isso, pois essa era minha criança, nada e ninguém poderiam tirá-la de mim.

Ela parou um segundo depois de mim, virou e me olhou de forma incompreensível. No primeiro momento pensei que ela estava com raiva, depois analisando um pouco mais atentamente, vi uma sombra de um sorriso em seu rosto, principalmente quando ela viu minha mão protegendo o meu ventre. Ela se aproximou de mim de uma forma bem gentil, sem fazer nenhum movimento brusco, olhando em meus olhos, pegou a minha mão que repousavam em minha barriga.