sábado, 24 de julho de 2010

1- Sarah

A última vez que o vi pela janela de meu quarto, ele era somente um vulto se afastando e sumindo ao longo da rua escura, naquele momento soube de imediato que minha vida havia mudado para sempre.

Fechei os olhos para memorizar cada traço do seu rosto. Desde da sua boca carnuda, seu nariz fino, seu queixo quadrado, e principalmente seus olhos. Possuíam uma cor que nunca havia visto por mim em nenhum outro olhar, era cinza claro, tinha um brilho que poderia iluminar qualquer escuridão, e assim o fez no breu que encontrava o meu coração.

Aquele homem havia me transformado em uma mulher apaixonada, por ele e pela vida. Vivemos uma paixão quase que enlouquecedora. Entregamos-nos a cada momento dessa historia de amor de forma intensa, não havendo muito espaço para seguir a razão.

Nunca gostei de me limitar às convenções sociais, como casamento, esse sentimento que eu estava vivendo com esse homem transcendia a qualquer regra social. E ele era favorável a essa minha conduta de não compromisso.

Cada minuto que passávamos juntos, podia sentir no fundo da minha alma que ele sempre me pertenceria de alguma maneira, que estaríamos ligados por toda minha história. Sempre haveria dentro de mim um pedaço dele, durante cada dia da minha vida, essa era uma certeza crescente cada novo momento em que ficávamos juntos.

Era uma paixão avassaladora, que me consumia intensamente, desde da minha mente quanto ao meu corpo. Não havia outro pensamento, outro desejo ou outra vontade que não fosse ele. Poderia passar anos, décadas, poderia o destino separar nossos caminhos, entretanto esse sentimento nunca acabaria.

Ao vê-lo partindo naquela madrugada, senti uma punhalada em meu coração, como uma adaga o tivesse ferido de forma irreversível. Cheguei a me curvar para frente, com mão em meu peito, tentando respirar e mantendo minhas pernas firmes, para não cair de joelho. A dor da separação era violenta invadia minha alma, deixando-me desorientada. Porque eu tinha certeza absoluta dentro do meu peito: era a ultima noite que o veria e sentiria em meus braços.

Suspirei profundamente, era difícil manter meu corpo firme diante daquela partida. Dentro de mim sabia que nunca mais ele estaria ao meu lado, que nosso amor passaria do presente para o passado. Quando ele partiu pude enxergar que também havia dor dentro dos seus lindos olhos cinzas. Mas sabíamos que por mais que sofreríamos com a nossa distancia, não poderíamos mais nos encontrar. Havia uma conseqüência muito sólida do nosso romance.

Abri meus olhos as lagrimas já escorriam furiosas e silenciosa pelo meu rosto mostrando toda a real desolação vivida por mim. Elas caíam livremente, não havia mais razão para controlá-las, simplesmente deixei elas rolarem. Havia um vazio dentro de mim, contudo sabia que aquilo seria momentâneo, afinal eu teria a melhor recordação que ele poderia me presentear do nosso amor.

E assim quando ele finalmente sumiu no meio da escuridão da madrugada, libertei todo o meu sofrer pela ausência do meu amado por completo, soltei um urro abafado de dor. Pois meu corpo sentia entorpecido por um tipo de veneno, eram as lembranças contaminando a minha mente, a sensação era que morte seria a melhor escolha para mim, só ela completaria aquele vazio. Contudo o meu caminho não era a vida, e fui sentindo isso ao mesmo tempo em que meu pranto me contaminava.

Durante algumas horas fiquei chorando sem parar, depois de intermináveis gotas caídas no tapete do meu quarto, senti que a tristeza imensa se esvaecer, acontecia dentro de mim à medida que a dor era esburgada pelo meu choro, um tipo de transformação. O desespero dava lugar ao novo tipo de amor dentro de mim.

O amor que sentia por aquele homem, foi modificando dentro de mim. O vazio que existia no meu peito por nossa separação, foi preenchido por um sentimento de alegria e amor genuíno. Essa nova forma de amar consolava a perda que acabará de sofrer. Esse novo sentimento passaria ser tudo para mim, pois ele me fazia sentir completa de uma maneira diferente.

Olhei envolta tentando compreender o que porque daquela nova emoção, e dessa forma meus olhos repousaram sobre a minha barriga, naquele momento lembrei que ali estava o motivo para tudo que tinha ocorrido naquela noite. A separação quanto esse novo sentimento. Estava ciente que a minha vida havia mudado para sempre. Era ali repousava o meu novo motivo para viver.

As lágrimas que antes eram de tristeza, agora deram lugar para felicidade impar, sabia que não seria uma escolha fácil, mas sabia que era o meu caminho. Existia uma confiança de que essa pessoa que crescia dentro de mim, abriria as portas para uma nova vida, que eu parecia ansiar por muito tempo esse recomeço.

Com o passar dos meses, as minhas tentativas de esconder a minha barriga começaram fracassar, pois ela crescia cada dia mais. Então passei a alegar para todos que o motivo de estar naquele estado redondo, era porque só tinha engordado mesmo. Nunca estive grávida antes, porém parecia que o meu ventre aumentava de forma acelerada.

Sendo que depois de quatro meses não havia quase roupas para mim, tinha perdido quase todas por ter engordado muito, elas estavam justas, não cabiam mais em mim, por mais que eu tentasse esticá-las. Vendo meu vestiário reduzido a cada dia, minha mãe foi tirar minhas medidas para costurar novas roupas para mim.

Quando ela se aproximou de mim, tentei encolher meu corpo, prendendo minha respiração, querendo aparentar estar magra, porém era impossível isso. Mamãe passou a fita métrica na altura do meu busto vi sua sobrancelha se levantar, assustada com o aparente inchaço que ele se encontrava. Mas não fez nenhum comentário verbal.

Ao continuar em suas medições notei que seu rosto cada vez mostrando mais desconfiança, mas ela não compartilhava seus pensamentos. Finalmente ela ficou de frente para mim, passou a mão no meu ventre e concluiu finalmente que não estava engordando de forma normal, como sempre alegava, que na verdade eu estava esperando um filho.

Ela pareceu não acreditar como aquilo era possível, afinal nunca fui comprometida. Nenhum pretende havia pedido minha mão aos meus pais. Ela nunca me viu acompanhada com nenhum rapaz. Assim não tinha sentido eu estar naquele estado, na opinião dela.

Ela me lançou um olhar de pavor, ao perceber o que eu tinha feito com a minha vida e da minha família. Ainda com a mão repousada na minha barriga sentimos o bebê mexer. Isso assustou tanto ela como a mim, era a primeira vez que havia acontecido aquilo. Foi inevitável abri um sorriso, pois fui inundada por uma felicidade sem tamanho. Entretanto a minha mãe estava pasma, não sei se pela minha reação de alegria ou pela minha gravidez. Acredito que possa ser até pelos dois motivos.

Ela passou a mão no meu pulso e começou a me puxar pela casa, ao mesmo tempo ela gritava o nome de meu pai, exigindo sua presença. Ao chegarmos a sala de estar, ela me soltou e começou andar de um lado para outro, falando coisas que não compreendia, pois sua voz estava embarcada de raiva e desespero. Depois de um tempo meu pai apareceu no cômodo reclamando o motivo daquela confusão. Na mesma hora minha mãe contou ao meu pai sobre a “desgraça” que tinha se abatido na nossa família.

Ao terminar de ouvir as palavras ditas pela minha mãe, notei as veias do meu pai começaram a saltar da pele mostrando a quantidade elevada de sangue que ali estava correndo, deixando seu rosto com um tom de vermelho quase roxeado. A raiva dele quase solidificou no ar, para me proteger do seu ódio comecei a fitar o chão, sabia que aquele volume de sentimentos rancorosos não faria bem nem para mim e muito menos para o bebê.

Como era esperado meu pai me questionou quem era o homem responsável por me seduzir, pois deveria assumir pelo o mal que havia me causado. Todavia eles não sabiam que o pai do meu filho não me fizera mal algum, na verdade ele tinha me dado o maior presente da minha vida, um novo significado para viver.

- Quem é o pai dessa criança, Sarah? – Dizia meu pai aos berros, enquanto minha mãe chorava inconsolável.
- Vocês não o conhecem – eu dizia calmamente- e além do mais ele não está mais na cidade, deve estar bem longe daqui.

Eles me olhavam com incredulidade. Na mente deles não é possível uma mulher jovem, ter um filho sem estar casada. Então pude olhar para meu pai, um homem moreno, alto e de ombros largos com afeições muito duras devido ao cotidiano militar.

Ele foi soldado durante a primeira grande guerra, quando retornou decidiu queria algum tipo paz, já que os fantasmas do passado sempre o a assombrava. Varias noites ouvia-se ele acordando aos berros, dizendo palavras usadas em combate. Então, em busca de tranqüilidade, mudamos para uma cidade do Caribe, Jilas. As pessoas viviam suas vidas da mesma maneira por séculos.

-Como você pode fazer isso conosco, com sua família – gritava minha mãe. - Você é tão jovem tem somente 17 anos, já destruiu sua vida dessa maneira - Seus olhos negros me fitavam com tamanho horror, que fez meu coração começar a sangrar por magoá-la daquela forma. Mesmo achando a vida de minha mãe muito vazia, vendo nitidamente sua alienação diária pelo meu pai, eu a amava muito.

Ela colocou as mãos na boca para abafar os soluços que cortavam sua respiração. Ela me olhava como eu acabasse de cometer um crime imperdoável. Não conseguia entender como eu estava tranqüila, olhava para mim procurando respostas para meus e seus erros, sim ela sabia que iriam acusá-la de ser péssima mãe.

-Nós vamos arrumar um pai para honrar o nosso nome – Os olhos esverdeados de meu pai encontraram os meus – Você não é como uma mulher qualquer. Sua mãe a criou para ser uma mulher digna. E isso que vamos fazer arrumar um marido, para dar dignidade a essa situação.

Nesse momento uma fúria surgiu em meu peito, como de um animal que acabou de ser atacado e ferido seriamente. Sabe pelo seu instinto de sobrevivência, que não pode ficar acuado, deve atacar para se defender, senão ele morre. Senti como esse bicho, eu estava sendo acuada eu deveria agir de alguma maneira. Levantei e passei a mão em meu ventre, senti uma força dentro de mim que jamais pensei ser capaz de sentir. Então olhei bem no fundo dos olhos do meu pai.
Como prometido na comunidade onde eu post, eu vou colocar aqui o primeiro capitulo do meu livro...

Como são 15 paginas, postarei aos poucos, porque ficaria muito texto ficando cansativo para voces

Espero do fundo do meu fragil coração (isso ele num é memso), que vocês gostem e por favor sinceridade nas criticas, quero elas para melhorar.