terça-feira, 21 de setembro de 2010

As aparencias sempre enganam

Esse conto surgiu partir de uma sugestão de uma querida amiga. Não vou falar muito senão estraga a historia. Ele será divido provavelmente em três partes. Hoje vem a primeira. E cada dia vem a próxima. ok?

Primeira parte:


Seu rosto branco sempre perfeito, com nenhum defeito aparente, sua maquiagem impecável como sua roupa, acompanhado com seu sorriso gentil e hospitaleiro, todo esse quadro irritantemente perfeito era algo costumeiro dela. Susan se agachou na minha frente, na cadeira confortável que tínhamos na sala. Lançou seus absurdamente olhos azuis claros para mim com um tom de preocupação e zelo, suas mãos tinham um copo de suco, o liquido tinha um tom rosado.

Sem respondê-la, pois quando começou a se velar o corpo sentei li para observar tudo e lá fiquei todo tempo, com o intuito de prestar atenção nela. Vendo minha ausência, só havendo meu corpo jogado no móvel, esticou sua oferta silenciosa, ainda em meio estado de choque aceitei.

Beberiquei o refresco que pude contestar agora que era feito de goiaba, pela consistência estava bem concentrado, como ela sempre faz por causa de minha preferência por esse modo. Ela se afastou, com o passo calmo foi caminhando na sala, no caminho pegando o lixo produzido pelas pessoas Durante o velório, foi até pouca bagunça para o volume grande de pessoas que aqui estiveram.

Minha mente depois de ontem funcionava como um disco de dvd arranhado que “pula” passa pra frente as cenas, algumas vezes as congela, ou volta a fatos que já haviam acontecido. Tudo se embaralhava na minha cabeça, deixando-me perdido de uma maneira nunca experimentada por mim anteriormente.

Agora meu campo mental recordava de poucas horas atrás, como num passe de mágico, somente visto em filmes, eu consegui ver a sala se encher de gente. As pessoas, principalmente vizinhos e amigos da minha família solidarizando com Susan a sua perda. A sua única irmã, seu ultimo parente vivo faleceu.

As condolências eram chorosas e sofridas, vários tapinhas nas costas dela, lágrimas grossas acompanhados de lencinhos para não borrar toda pintura das mulheres, minha esposa Susan aceitava todo tipo de conforto. Seu rosto tinha um tom pálido mais que normal, contudo não sei se pelo fato de estar desconfiado com ela, achei aquilo poderia ser truque de maquiagem, na verdade suspeitava e analisa qualquer movimento feito por ela.

A sua imagem parecia bastante sofrida para todos ali, falavam a todo o momento que ela não se sentisse só no mundo. Ela agradecia com gestos calmos e contidos. Aquilo me deixava inquieto, não pela sua dor, coisa que não posso julgar qual seja, mas sim pelo contrate de ontem quando ela recebeu a noticia da morte de sua irmã.

A cena se congelou e se repetiu, o disco arranhou ali, agora sala esvaziou, voltando para vinte quatro horas antes, a luz era quase uma penumbra, por coincidência me encontrava nessa mesma poltrona, gostava dela para ler, o abajur eu fica ao seu lado é perfeito na iluminação. A minha recordação foi tão perfeita que consegui sentir os meus óculos de leitura pesando no meu rosto, acredito que para montar o quebra-cabeça que necessito preciso de qualquer detalhe.

O telefone tocou ecoando seu som estridente pela a noite sempre tranquila que reinava em nossa casa. Susan veio até o aparelho, tirou do gancho o fone e atendeu, fiquei atento a ela, pois sabia que poderia ser alguma coisa relacionada a sua irmã Lisa. Ao perceber minha atenção nela, virou seu corpo calmamente, sem nenhum movimento brusco. A ligação durou no máximo dois minutos.

Ao terminar colocou sua mão delicada com o aparelho frouxo entre os dedos no ombro, soltou um suspiro, parecia de alivio, bem foi o que meus olhos capturaram em meio a penumbra que se encontrava o ambiente. Depois disso ela colocou o fone no seu devido lugar. Sem obter nenhuma fala dela perguntei o óbvio:

-Era sobre Lisa? – tentei usar um tom delicado, já me levantando da onde me encontrava.
-Ela faleceu. – Susan virou para mim, para meu espanto seu rosto era indiferente. Lembrei-me que pessoas em estado de choque devido a noticias impactantes, podem ficar naquele estado tranquilo. Ela fez um gesto para eu sentar e avisou que ia ao escritório ligar para a funerária, organizar tudo para o velório.

No entanto ela parecia realmente calma, aquilo me assombrou, imediatamente fui mais para trás no tempo. Desde que Lisa foi internada devido sua queda em casa, de cima da escada, ela se encontrava em coma profundo. Ela era uma pessoa transtornada pelo seu problema de vicio álcool, ela sempre se metia em confusões em bares e dividas para alimentar sua obsessão. Muitas vezes Susan a buscava nos hospitais quando era internada para tomar soro na veia.

Elas sempre tiveram uma relação tumultuada, xingamentos feitos por Lisa eram jogados contra Susan, que por sua vez, por incrível que pareça não respondia nada, somente a encarava a irmã alcoolizada com rosto de pena.

A simples presença de Susan irritava Lisa, que muitas vezes jogou objectos contra a irmã, em contra partida, a outra era demasiadamente cuidadosa com irmã. Pagou do próprio bolso inúmeros tratamentos em clínicas de tratamento de dependentes alcoólicos. As pessoas ficavam compadecidas com a luta da irmã boazinha com irmã problema.

Em algumas bebedeiras ou até nos seus momentos de lucidez, que eram poucos, Lisa esbravejava que não conhecemos o demônio que Susan era. Aquilo despertava a ira dos outros, até muita às vezes a minha, porque minha esposa tinha toda paciência do mundo, ficando alguns dias com a irmã na casa dela. Contudo agora juntando as peças vejo que Lisa era a mais sã de todos nós, ela sabia muito bem com quem estava lidando. Agora estou começando a enxergar que suas acusações, afastando o véu da ilusão que Susan teceu na minha frente, me cegando para sua verdadeira face.

Os médicos ficaram impressionaram como Lisa sobreviveu a queda tão violenta, pois ela rolou degraus a baixo, resultando e nenhum nosso quebrado, somente um corte profundo na testa e o coma. Eles afirmaram que ela havia ingerido álcool, algo esperado, um dos motivos que evitava sua presença, além da sua mania, hoje vista por mim como certa, de falar que não conhecíamos Susan.

Nunca escutei uma reclamação sequer da minha esposa do comportamento inadequado da irmã, repetia inúmeros momentos que tinha pena do estado dela, que sempre foi um problema que apareceu desde da infância, onde ela bebia escondidas as bebidas do pai.

Não conseguia compreender como Susan ainda se preocupava com irmã bêbada, depois de toda a magoa provocada por ela, minha esposa dava os ombros e repetia, que ela era sua única família, com seus traços perfeitos mostrando sofrimento pela sua luta. Além que Susan era a mais velha, dizia se sentir responsável pela irmã depois da morte dos pais. Todavia eu não sabia que eu também estava submerso no seu jogo de mentiras, recordo-me do dia que a bolha de ilusão começou a se trincar, mostrando que a vida de sonhos que eu tinha era uma farsa.

Durante uma semana Lisa ficou internada, Susan passou lá praticamente todo tempo, não saindo do seu lado para nada. No sétimo liguei para minha mulher e pedi que viesse para ficar comigo, pois sentia saudade dela. Então fui ao hospital buscá-la, a equipe medica achava interessante a dedicação constante de Susan, mostrava quanto ela se preocupava com a recuperação rápida da irmã.

Minha esposa pediu para buscá-la a três horas, entretanto sai mais cedo do meu escritório de advocacia, não queria passar em casa, para esperar por ela, então decidi ir logo para hospital. Sentia sua falta, a nossa casa não era mesma sem a sua presença em casa.

Quando cheguei a recepcionista nem me parou, pois já me conhecia, havia uma semana que vinha todo dia aqui, dessa forma ela não me acompanhou até o quarto, que eu já sabia bem o caminho.

Ao entrar no quarto não vi Susan, escutei só o som da porta do banheiro do quarto se fechar, provavelmente ela teria ido para alguma necessidade fisiológica. Olhei para o leito e notei o braço direito de Lisa virado para cima, repousando no lençol perfeitamente arrumado, sem duvida ajeitado por Susan com sua mania de perfeição.

Escutei vindo do banheiro, o som de plástico, logo em seguida uma água escorria livremente na pia. Em seguida, depois de alguns segundos Susan aparece, notei ela se assustar com a minha presença, por alguns segundo eu podia jurar que vi uma sombra de raiva nos olhos que tanto amava.

Achei estranho aquilo, ela passou por mim e ajeitou a mão da irmã inconsciente para baixo, algo dentro de mim alertou que algo estava errado. Para retirar essa impressão perguntei:

-Está tudo bem?
-Sim. – ela respondeu seca ainda com seu rosto virado para a irmã. – Vamos embora?
-Vamos. – eu respondi. Nesse momento ela virou para mim com seu melhor sorriso.

Quando estávamos nos preparando para nos retirar entrou no quarto o medico responsável pelo caso da minha cunhada, me cumprimentou com aperto firme de mão e depois pediu para conversar com minha esposa, que aceitou ir, puxou meu braço para acompanhá-la. Entretanto falei que era um assunto dela, não queria atrapalhar, ela insistiu, mas eu fui firme e falei que esperaria por ela aqui no quarto, onde tinha uma poltrona, além que havia uma televisão queria ver o noticiário de esporte que tinha perdido hoje de manhã.

Ela me encarou mais um segundo, vendo que não a acompanharia ela sorriu e saiu com medico. Encontrando-me sozinho sentei na poltrona, na verdade me joguei e liguei a televisão. Em meio a minha irritação que meu time tinha perdido um jogo, escuto Lisa resmungando e se mexendo, aquilo me assustou, levantei prontamente, me preparando para apertar a campainha chamando a equipe.

Entretanto a mão da minha cunhada me deteve no punho, num apertar forte, nem parecia que ela estava uma semana inconsciência, seus olhos se abriram como se ela houvesse levado um choque, seu corpo se arqueou para cima, sua respiração sobressaltada. Cena típica de filmes de terror, aquilo já me fez tremer, nunca gostei de levar susto.

-Não faça isso. – ela falou com a voz rouca. Pigarreou e continuou. – Pelas dores que estou sentindo tenho pouco tempo preciso te falar a verdade.
-Lisa, eu preciso chamar a enfermeira para você.
-Não há tempo. - ela vociferou assustando-me mais ainda. – Vá até a minha casa, no meu armário, há um fundo falso na parede. Lá terá toda a historia. – Seus olhos perturbados me encaram com urgência. – Você precisa saber a verdade.

Nessa hora ela se contorceu mais uma vez, se ausentando mais uma vez para inconciencia, ela parecia com muita dor, apertei o botão com a outra mão livre. Ela urrou de dor, algo não estava certo, em questão de segundo a equipe chegou, o barulho do equipamento onde ela estava ligada, começou um apito longo, mostrando que seu coração tinha parado. Rapidamente o médico responsável adentrou também o local, com Susan a seu encalço, ele já foi pedindo um Desfibrilador.

Toda aquela cena brutal aconteceu diante dos nossos olhos, parecia que tudo acontecia de maneira lenta, como num slow motion: um corpo tentando ser reanimado, não é um quadro muito bonito de se ver, fiquei preocupada de minha esposa ver isso, virei meu corpo na sua direção e a abracei. Contudo ela estava calma, seus traços perfeitos mostravam um ar de superioridade, até de satisfação. Aquilo me fez ter certeza que seguiria o conselho de minha cunhada. Pois havia algo de errado naquela pessoa que não reconhecia ao meu lado.



Espero que gostem... amanha tem mais!!!