domingo, 25 de julho de 2010

Continuação do capitulo...



-Não vou permitir que você me trate como um bicho abandonado que precisa de dono. Sei que posso ser uma vergonha para vocês dois, contudo é da minha vida que estamos falando. Não vou me casar com qualquer um só para ter algum tipo errôneo de dignidade. Não há nada de digno em casar sem amor. Não repetirei o erro de minha mãe.

Foi então que senti um tapa cortar minha face, com tamanho ódio que era quase tangível. Ao mesmo tempo ouvi o grito abafado de minha mãe ao ver aquela cena. Senti o sangue em minha boca, ao mesmo tempo me veio uma ira quase incontrolável. Quando me virei, vi meu pai tremendo involuntariamente de raiva, quase em tipo de convulsão, seu rosto demonstrava um horror, o animal dentro dele também estava ferido.

Limpei o sangue no canto da boca com as costas da mão direita. Sustentei o olhar do meu pai e sai da vagarosamente da sala, indo em direção ao meu quarto. Peguei uma mala pequena e pus poucas mudas de roupas, pois sabia que a pouco não dariam mais em mim.

Sai do quarto com mala em punho, quando vi meu pai no canto da sala olhando pela janela a chuva que cai torrencialmente. Enquanto minha mãe soluçava freneticamente e quase se afogava em suas próprias lagrimas. Lançou-me um olhar de terror quando viu o que carregava na mão, ela sabia de imediato o significado desse ato. Assim correu ao meu encontro e chorou copiosamente entre os meus cabelos castanhos escuros.

Pus minha bagagem no chão, peguei-a pelos ombros e a afastei olhando para seu rosto. Comecei analisá-lo calmamente, havia rugas nos cantos dos olhos, elas tinham o significado de como a vida daquela mulher foi de sacrifício e omissão ao lado do meu pai. Talvez se elas tivessem voz, me diriam quanto era difícil toda sua vida. As lagrimas caiam sem parar dos seus olhos, eram dois rios contínuos. Comecei a limpa-los com meu dedo indicador. Seu rosto era de suplica e desespero. Meus olhos marejaram ao encontrar aquele quadro de desolação de minha mãe.

-Mãe, não posso viver como você. Não conseguiria sobreviver nem um dia sequer. Sei que não parece racional esse amor que sinto por ela – coloquei gentilmente a mão em minha barriga – Não nasci para ficar pressa a ninguém que não seja a ela. Então desculpe-me por não ser merecedora de ser sua filha.

Abracei a lentamente, deixando que ela molhasse mais um pouco meus cabelos. E também me prendi a sentir seu cheiro, sabendo aquela seria provavelmente a ultima vez que a veria. Dessa forma a olhei com os olhos, houve uma cumplicidade mutua, não éramos mais mãe filha. E sim duas mulheres fortes que admiravam uma a outra. Antes desse momento nunca houve anteriormente um momento tão próximo de nós duas. Aquele seria um momento único, guardado dentro de mim. Vi no fundo dos olhos de minha mãe uma admiração silenciada, estava lá o seu orgulho pela minha coragem.

Enxuguei as minhas lágrimas e as dela, de forma bem gentil. Passei a mão em seus cabelos sedosos que caiam até os ombros, para limpar seu rosto dos fios que ficaram presos devido suas lagrimas. Abracei novamente, sabia que seria pela ultima vez. E sussurrei em seu ouvido.

- Vai ficar tudo bem. Não há motivo de preocupação. Eu estou muito feliz com a minha escolha- admiti. Ela piscou freneticamente para mim, como acabasse de levar um susto com as palavras que acabei de pronunciar.

Dei um beijo em sua testa, peguei minha mala do chão. Olhei minha mãe pela ultima vez, tentando guardar cada detalhe daquela imagem. Fechei os olhos memorizando tudo por um segundo e me virei para abrir a porta. Sai em meio a chuva grossa, e sem olhar para trás, sem ao menos ter mínima duvida da minha decisão.

Comecei a andar rapidamente até a rua, havia poças e mais poças de água em meu caminho, minhas roupas já estavam encharcadas somente ao percorrer esse pequeno caminho. Elas estavam pesadas, ou eu sentia um peso a mais devido a minha escolha? Para onde eu iria? O que aconteceria agora?

Perguntas me invadiam de forma quase acusatórias. Contudo me sentia tão segura sobre minha escolha que não me permitiria enfraquecer em frente a essas palavras. Olhei para os lados, decidindo para onde eu iria. Não conseguia avistar nada, devido ao temporal incessante, minha mente também não estava apontando caminho nenhum. Respirei fundo, deixei meu coração me levar para qualquer lugar.

Enquanto andava pelas ruas de Jilas, sem rumo algum, pude sentir vários olhos me encarando através das janelas das casas. Senti uma pontada de pena de minha mãe, as historias e acusações que a fariam devido a minha decisão de sair de casa. Podia ouvir em minha cabeça as pessoas falando: “sua filha fugiu solteira e grávida”. Estou ciente que essa idéia lhe causaria dor, sem duvida haveria um gosto amargo de impotência. Já que questionaria sua competência como mãe, aos olhos dos outros ela havia falhado.

Abaixei a minha cabeça, talvez para tentar esconder meu rosto, minha mãe não merecia mais sofrimento em sua vida. Entretanto já havia tomado minha decisão, não havia possibilidade de voltar. Dessa maneira continuei meu caminho sem destino definido, ao longo do caminho pude refletir um pouco sobre a minha vida. Deixei minha mente vagar, não prestando atenção em que direção seguir, meus pés moviam involuntariamente. Sabia que tinha que andar para bem longe dali, e assim o fiz. Minhas pernas moviam-se e minha mente viajava ao longo dos meus pensamentos.

Sempre soube que minha vida não seria como as demais mulheres de Jilas. Eram criadas desde mais tenra idade, para serem perfeitas mães e esposas. O seu papel na família era como de um serviçal sem direito a nenhum tipo de recompensa. Viviam somente para servir aos caprichos de seu marido e filhos, não podiam esperar nenhum tipo de carinho em troca.

Trabalhavam para manter o perfeito funcionamento da casa, que sempre devia estar muito bem limpa e decorada. Os horários de refeição deveriam ser obedecidos de acordo com desejos dos maridos, elas deviam cozinhar o que eles gostavam. Em nenhum momento havia preocupação de que essas mulheres deviam ser amadas e desejadas. Alias uma mulher não poderia chamar atenção para sua beleza, esse tipo de vaidade era visto como um comportamento desviante. Devia preocupar-se somente com sua família, mesmo que houvesse sacrifícios pessoais.

Os homens controlavam todas as decisões sobre o grupo familiar, principalmente em respeito a suas esposas e filhas. Eles eram os únicos que “sabiam” o que eu seria melhor para destino das mulheres. Os sentimentos sempre ficavam em segundo plano quando unia se um casal. Outros interesses eram priorizados, principalmente os financeiros.

Não era permitido sonhar em ter outro destino que não fosse do matrimonio e da constituição de uma família. Se ela fugisse a regra seria vista como uma aberração. Era condenada e rechaçada, não podia viver entre as famílias de Jilas, pois não era digna. Constantemente chamada de mulher da vida, pois havia escolhido o caminho “errado”.

Então não conseguia me ver como essas mulheres que haviam escolhido caminho “certo”. Não podia conceber uma vida para mim onde teria como única função servir como uma escrava a um homem. E viver essa escravidão até que a morte me encontrasse. A mim essa idéia parecia muito distante, nunca compartilhei dessa maneira de viver. Entretanto não sabia o que esperar da minha vida, afinal será que havia outro tipo de pensar?

Assim sempre deixei a vida passar por mim, trazendo as supressas ao longo do seu passar. Levei-me pelas emoções que tocavam ao meu caminhar, sendo sempre fiel aos meus sentimentos, atitude não muito comum entre as mulheres. Privavam-se o tempo todo dos seus sonhos e desejos, em busca de um ideal previsto pelos homens.

Como fosse de esperar o amor me encontrou de frente de forma inevitável. Vivi esse amor de forma intensa e louca, como todo amor deve ser vivenciado. Como não houvesse tempo suficiente para viver aquele sentimento na sua totalidade. Soube desde inicio que ele não seria o meu marido, nem queria ele nesse papel. Sempre vi os homens transformando em donos de suas esposas, como se elas não tivessem mais vontade própria, vivam por e para eles. Não queria aquela escravidão para mim.

De repente meus devaneios íntimos foram interrompidos pela aproximação de uma mulher. Andava de forma firme e decisiva, uma maneira incomum para uma senhora, devia estar marchando. Chegou bem perto de mim, colocou uma capa, similar com a que estava usando, pegou-me pelos cotovelos e me girou de forma que ficasse ao seu lado. Passou uma das mãos pelo meu ombro e a outra pegou a mala de minha mão. Começamos andar em direção a uma casa. A olhei incrédula, como ela poderia querer ficar perto de mim? Será que ela não tinha visto o estado em que me encontrava? Essa mulher queria alguma coisa comigo?

Andamos em meio a chuva, as gotas pareciam bolas de gudes, caiam sem parar, formando poças e mais poças ao caminho de uma casa. Como vaguei a alheia em meus pensamentos anteriormente, não via onde estava indo. Foi quando percebi que estava próxima a praia de Sula, era uma das mais isoladas, onde havia pouquíssimas casas.

Não conseguia olhar para o lado, a chuva cobria qualquer tentativa de descobrir quem estava ao meu lado, só sabia que era uma mulher porque tinha visto a barra de seu vestido. Foi então que as perguntas inundaram minha mente, cada vez mais inquietas, mas havia uma que não parava de girar. Por que essa mulher esta ajudando uma desconhecida grávida?

No segundo seguinte parecia que obtivera algum tipo de resposta. Meu instinto materno pareceu gritar em plenos pulmões: ela queria minha filha.

Parei de andar de imediato, coloquei a mão na minha barriga de forma protetora e a lancei um olhar furioso. Sentia-me como uma Leoa defendendo seu filhote, se ela me atacasse ou a minha filha, seria capaz de matar aquela estranha. Não haveria remorso para isso, pois essa era minha criança, nada e ninguém poderiam tirá-la de mim.

Ela parou um segundo depois de mim, virou e me olhou de forma incompreensível. No primeiro momento pensei que ela estava com raiva, depois analisando um pouco mais atentamente, vi uma sombra de um sorriso em seu rosto, principalmente quando ela viu minha mão protegendo o meu ventre. Ela se aproximou de mim de uma forma bem gentil, sem fazer nenhum movimento brusco, olhando em meus olhos, pegou a minha mão que repousavam em minha barriga.

2 comentários:

  1. CONSEGUIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII LER E POSTAR O COMENTARIO...APESAR DA NET LENTA...

    MISS DIVA, NÃO ME CANSO DE LER O QUE VOCÊ ESCREVE...VC TEM UMA IMAGINAÇÃO PARA LÁ DE FÉRTIL... E CONSEGUE CRIAR SITUAÇÕES TOTALMENTE DISTINTAS COM ENORME FACILIDADE, COM CERTEZA EU NAO SOU ASSIM...

    ADMIRO SUA CAPACIDADE DE FAZER ISSO E COM CERTEZA VOCE MERECE COM LOUVOR O TITULO DE DIVA...PQ NÃO ´HÁ COMO NÃO RECONHECER ISSO.

    PARABÉNSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

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  2. sarah me surpreendeu com essa atitude,não esperava,muito corasoja,isso é a tua cara miss,mas faria a mesma coisa,sairia de casa,apesar do medo de não saber o que o futuro me reserva
    mas quem é essa mulher e o que ela quer com ela?

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